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A alma inveja do corpo a leveza, o descompromisso, a inocência

Não sabemos você, querido leitor desses Aforismos, mas, para nossos pesquisadores não há dúvida: na queda-de-braço entre corpo e alma, esta sempre levou a melhor; sempre foi vista como superior em relação ao corpo, este um ente limitado cheio de gostos e frescuras, condenado à decadência e à putrefação, mera comida para vírus e micróbios de toda ordem, particularmente depois da morte, ainda que esses vírus e micróbios tenham estado à espreita todo o tempo de vida do vivente, apenas à espera de um momento para começarem a fazer no corpo um verdadeiro festim diabólico. Bem ao contrário da alma, destinada a voos altos, cada vez mais altos, inimaginavelmente altos, divinamente altos.

Então, enquanto a alma não teria limites para o seu crescimento, o corpo do chão não passaria, e não passaria de comida para os seres mais primitivos que a evolução criou. Assim, se você fizer como nossos pesquisadores e perguntasse a mesma pergunta a qualquer um, seu colega de serviço, na fila do ônibus que nunca chega (e quando chega está mais lotado que lata de sardinha), esperando chegar sua vez para passar no caixa do supermercado no dia em que o pessoal recebeu aquela miséria de salário, esperando ser atendido em alguma operadora de telefonia, para reclamar da sua conta, esperando, esperando, sempre esperando, então, se você perguntasse: será que a alma não seria um nome bonitinho e bem do pretensioso para o conjunto das nossas infinitas emoções, amores, paixões, decepções, raivas, frustrações, medos, angústias, alegrias etc. etc e etc, que podem ser claramente percebidas pelo corpo e vividas em toda a intensidade no corpo, que, por isso, parece mais um campo de guerra do que um parque de diversões – que resposta você esperaria? Alma? Mas, pelo menos, no corpo teríamos mais segurança de que as emoções são como são e o que são – já com a alma fica aquela enrolação sem fim, uma justificativa atrás da outra pra justificar o fim da festa!

Na verdade, o que nossos pesquisadores gostariam mesmo é de perguntar para a alma-ela-própria se ela não gostaria de viver certamente uma vida muito mais breve do que supostamente viveria uma alma, mas uma vida mais intensa, divertida, verdadeira e que soubesse o momento de sair de cena, e o aceitasse como se aceitam as inevitabilidades da vida?

Até o momento, nossos pesquisadores não toparam com nenhuma alma disposta a ser desmascarada. Se o querido leitor encontrar, nos escreva.

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