Água e óleo se misturam? Ou a água se acha superior ao óleo, que acha a mesma coisa, com a diferença de que acha que superior é ele, óleo?

E o que dizer do magnésio junto com gelo seco?

Interessados em saber como pensam aqueles que têm na Natureza a explicação literal para o mundo nada literal dos homens, nossos pesquisadores pensaram: e se no lugar de água e óleo (ou de magnésio e gelo seco), pensássemos em Bem e Mal? Convivência ou guerra civil? Siameses que se detestam? Univitelinos que gostariam de ter tido cada um o seu uterozinho separado, isolado, totalmente distante do outro que se diz igual a ele, ou muito parecido, pretensioso?

Nossos pesquisadores começaram a análise a partir de uma constatação óbvia, que pode se observada a todo instante, em todo lugar: se as coisas estão bem, se caminham bem – maravilha! Mas, se dão errado, se o caldo entorna, se a maionese estraga, se a coalhada azeda – eu não tenho nada a ver com isso, alguém (que não eu) foi o responsável por tudo isso de errado, muito provavelmente meu colega de serviço, aquele traíra. Sem falar naquela fofoqueira da Dona Nair, que vai pedir emprestado uma xícara de açúcar pra Dona Marlene, só para bisbilhotar o que a vizinha está fazendo, e para ver se consegue saber de uma vez por todas se ela vai continuar sustentando o vagabundo do filho, que ainda está dormindo às 11horas da manhã. Se bem que seja a Dona Nair, seja a Dona Marlene, ambas ajudaram muito quando a Cotinha ficou com a filha doente, iam lá no apartamento dela, davam comida, davam banho, que ela deprimiu forte!

E também, verdade seja dita, o traíra do seu amigo foi o que te ajudou com as planilhas de cálculo, que você não entende nada, sem contar que ele te substitui naquele dia que você saiu mais cedo, dizendo que ia resolver um problema particular, quando na real você ia se encontrar às escondidas com a filha da Cotinha e que ela passou mal porque você passou a sair com a prima dela, a Vanessa, que dava aulas particulares de matemática, de graça para sua filha.

Pensando nessas pessoas todas e nesses exemplos todos, nossos pesquisadores especularam se a evolução não deveria ter dotado o homem de alguma processadora interna, potente o suficiente para misturar o mau-caratismo com o bom-caratismo; a bondade com a maldade; a gentileza com a perfídia e ver se não sairia resultado mais homogêneo e íntegro do que um homem eternamente dividido.