Estamos tão acostumados a nos acostumar com as coisas da vida e do mundo que qualquer coisa que não esteja dentro dos estreitos limites desse costume aparece como sendo algo entre uma mera esquisitice e uma tentativa de tirar as coisas do lugar onde sempre estiveram e deveriam estar.
Mas, perguntam nossos pesquisadores, mesmo que esse limite seja medido em quilômetros, ainda assim será limite: e o que poderia existir no quilômetro+1, para começar? Agora, se pensarmos que no dia-a-dia o limite está muito antes do quilômetro e, situa-se, entre os melhores, em alguns metros, e, na quase totalidade, entre uns míseros centímetros, para não dizer mesmo milímetros, estamos dizendo com outras palavras que só conhecemos um mínima isca de um nadica de nada, ficando de fora todo o restante, o que é muita coisa. Direto ao ponto: seria como se a totalidade de cada um fosse a isca de um nadica de nada sem um nada do restante de toda a totalidade – concorda?
Muita, mas muita coisa fica de fora. Tudo, praticamente.
Claro que você, leitor atento e acurado, vai se lembrar de que isso tudo começou lá atrás, quando disseram que a única sabedoria possível seria saber que de nada se sabe. Uma espécie de sabedoria meia-sola. Sabedoria de ignorante.
Se isso já foi profetizado lá atrás; se, desde então, as coisas parecem ser assim, não seria o caso de desbancar a sabedoria do pódio em que ela própria se colocou, claro, lá em cima, no primeiro lugar, e dar-lhe uma colocação mais condizente com suas limitadas capacidades de esclarecer alguma coisa. Ou então sermos mais radicais e eliminar dos dicionários (o geral e os específicos de filosofia) a palavra sabedoria e sua correlata igualmente pretensiosa, a verdade.
A partir dessa solução saneadora, poderíamos, estando mais de acordo com os fatos da vida como eles se apresentam sem frescuras e soberbas, dar a primazia do conhecimento e da verdade à ignorância.
A sabedoria e a verdade estariam preparadas para tal humildade?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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