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Cinismo que late não morde

Por aqui, nós, os Canis&Circensis, não raro fomos tachados de cínicos. Melhor: Achincalhados. Melhor ainda: Xingados. E esse foi e é apenas um dos xingamentos que nos dignificam e a nossa atividade.

Por isso que o cuidado deve ser redobrado. Por partes. Seja no senso comum, seja no senso um pouco menos comum, é comum considerarem que o cinismo é uma espécie de líquido corrosivo capaz de derreter placa de aço e montanha do Himalaia. Bem, até concordamos que se você chamar urubu de meu louro, dependendo do contexto, a coisa pode soar bem cínica. Mas, quando chamamos um fascista de um sujeito de inteligência apequenada, estaremos sendo cinicamente verdadeiros – concorda?

Com nossa visão meio de lince, meio de coruja, meio de falcão, com frequência vemos o que olhos doces e meigos não têm a devida acurácia oftalmológica para observar e enxergar – ironia pura, certo?

Mas, justamente em função dessa acurácia oftalmológica, não poderíamos nos contentar com elogio em uma matéria em que somos doutores – sem ironia! O passo-além que estamos dando é entender por que não morde o cão que late, quer dizer, por que o cinismo permite que seu poder corrosivo contente-se em ficar apenas e tão somente assim, meio que da boca pra fora. Ora, ora, cinismo que é cinismo tem que ter vergonha na cara, mas, sobretudo, coragem nas bridas, ora, ora, de novo. De que adianta o cinismo bater com luva de pelica, se o couro que está sendo açoitado não tem inteligência sequer para perceber que está sendo justamente açoitado? Cinismo não é leite condensado, nem maria-mole, nem baba de moça – tem que se dar o devido respeito e agir com a contundência que só os punhos podem praticar – concorda, leitor? Que os punhos devem praticar, isso sim! De que adianta agir com inteligência com quem não a tem nem para compreender que está sendo chamado sutil e cinicamente de burraldo? Incomodava nossos pesquisadores o fato constatado historicamente de grande cínicos não passarem disso – na verdade de grandes escritores de ditos e escritos cínicos. Mas, e quando a situação exige uma bela e dura bofetada? Talvez o fígado agradeça mais. Deixemos o cinismo com e sobretudo contra quem tem as mais mínimas condições de sentir-se açoitado.

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