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Se a vida e a verdade estiverem em contradição, qual deve estar certa?

Uma de nossas obsessões, você já sabe, é essa relação que a quase totalidade de todos os viventes do mundo estabelecem entre vida e verdade, como se fossem irmãos siameses, ficando a verdade com a condição magistral, e a vida em posição secundária e subordinada.

Você não tem a mesma impressão? É como se a vida fosse uma condição permeada de idas-e-vindas, altos-e-baixos, marchas-e-contramarchas, sobes-e-desces, instabilidade a toda prova, sem nada de seguro a fazer valher-lhe a pena.

No polo oposto estaria ela, a verdade, impoluta, digna de todo o incenso e mirra do mundo, inabalável, altiva, serena, sequer sendo atingida pelo vai-e-vem do mundo em suas marolas e tsunamis. Condição que daria segurança a tudo e a todas as coisas. Uma rocha inabalável. Pedra indestrutível.

Aqui não é o caso nem o momento para aprofundarmos esse tema, que apenas citamos brevemente: não parece haver acaso nenhum no fato de que diversas religiões ancorarem suas certezas na imagem da pedra inquebrantável e indestrutível, como o antídoto necessário para a vida, essa expressa na movimentação incontrolável das ondas do mar aberto (pode ser também de um rio, outro visto como uma condição de instabilidade).

Como dissemos, não temos condição aqui de aprofundarmos essa queda-de-braço entre estabilidade e instabilidade. Mas, não sabemos o que você acha, prezado leitor, mas ela (a queda-de-braço) e sobretudo a condição superior dada à verdade em detrimento da vida, sempre nos pareceu a nós os Canis&Circensis como uma bela jogada de marketing de certa elite econômica e social que, como tal, não tinha nem nunca teve que pegar no batente pesado, aquele que apresenta todo tipo de instabilidade, vendendo para todo mundo a existência de uma situação que se contrapunha a toda essa movimentação sem sentido, condição de estabilidade para a existência da vida – bem entendido, da vida a qual eles se referem, a vida que lhes interessa, e que todos aqueles que não tinham condição de viver a vida impassível a que eles se referem, que tenham a paciência, que aguentem a condição inferior da vida que sua insignificância lher permite.

Será necessariamente assim, leitor?

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