Se o ser humano é pleno de possibilidades, por que, no final das contas, nosso comportamento é fundamentalmente binário? Ou somos materialistas ou somos espiritualistas; ou somos carnívoros ou somos vegetarianos; ou somos situação ou somos oposição; ou somos anjos ou somos demônios; ou somos homo ou somos hetero; ou somos campo ou somos cidade; ou somos amor ou somos razão; ou o pepino é grosso ou o pepino é fino. A vida parece se resumir a um jogo de boteco: par ou ímpar? Qualquer coisa que não esteja dentro dessa lógica branco-e-preto nos escapa feito peixe ensaboado. O equilíbrio que tanto gostamos de apontar como a grande característica das pessoas razoáveis – quer dizer, nós! – parece ser mera figura de retórica, coisa pra inglês ver, manias de Policarpo Quaresma.
Nossos pesquisadores estavam interessados em entender justamente essa limitação cognitiva: por que não dá para misturar chiclets com banana? Dada a onipresença dessa característica do homem, a linha de pesquisa escolhida por eles se estendeu para todos os campos da atividade humana. Um desses campos são as relações entre os seres humanos, mais exatamente, a relação entre quem manda e quem é mandado, entre quem baixa o cassete e quem tem o lombo casseteado – o que os une? O que os separa?
Partindo do pressuposto de que quando um não quer, dois não brigam, a decorrência lógica do pressuposto é que, para não brigar, quem apanha, apanha por que, no lugar de brigar, prefere apanhar. Concorda em apanhar. Como decorrência lógica da conclusão desse pressuposto, nossos pesquisadores teriam que pesquisar os masoquistas de plantão, aquela turma que não se contenta em ter a carne dilacerada com lâmina antes de jogarem vinagre nas feridas. Excetuando essa gente, por que a meia dúzia que sobra teria interesse em gemer até não mais poder?
Nossos pesquisadores estão trabalhando com a hipótese do hábito, aquela nossa segunda natureza: quem apanha desde sempre sabe que amanhã vai apanhar também. Por que essa pessoa pensaria que amanhã teria moleza, se ela nunca soube não ser cúmplice daquilo que a vitima?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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