Anterior
Próximo

A palavra não é o único, mas é o sumo pontífice

Sentiram o golpe!

Se o leitor está começando por esse Aforismo, recomendamos fortemente que leia a crítica injusta de que fomos vítimas, sugerindo que seríamos aprendizes de feiticeiro no domínio da palavra e sua capacidade de nomeação das coisas do mundo!

Tanto sentiram, que escreveram e parece continuarem escrevendo para nossa redação, dizendo e tentando sustentar que a relação que o homem estabelece com o mundo não se dá apenas pela palavra, que haveria maneiras mais eficazes de batizar coisas, fatos, momentos, situações que seriam capazes de estabelecer com a vida uma espécie de ligação direta, sem intermediários com a existência.

Alegaram que essa forma direta impediria a corrupção das coisas, a começar do fato de serem corretamente entendidas sem a intermediação da palavra, essa corruptora por natureza, ainda se em mãos inábeis e despreparadas, algo assim como um cirurgião maneta tentando manejar um bisturi para desobstruir um coágulo que se formou na aorta de um velhinho que na verdade está mais pra lá do que pra cá, ou como um facão na mão de um macaco.

Ok, então a palavra (mesmo aquela inadequada, em mãos igualmente inadequadas) estaria não apenas conspirando contra a elucidação da realidade da vida e suas infinitas realidades, mas teria concorrentes que fariam melhor esse trabalho, que seriam como uma fotografia que, em um clique, mostraria tudo que poderia e deveria ser mostrado; ou, como sustentam outros, como um número que sendo número não mentiria, como uma palavra, potencialmente caluniadora (como aliás a calúnia via palavra que nós, os Canis & Circensis, sofremos).

Então, repetimos a pergunta e o desafio: qual ou quais seriam esses instrumentos reveladores da verdade da vida e da existência mais esclarecedores do que uma mera e rastaquera palavra? Esclarecemos a você, leitor, que recebemos enxurradas e mais enxurradas de textos, enxurradas e mais enxurradas de palavras e nada mais que palavras. Então, os fatos nos obrigam a concluir o que na verdade já tínhamos concluído há muito tempo: palavra: ruim com ela, pior sem ela!

Não contentes com essa obviedade, enviamos essa palavrada toda a um Comitê isento, para análise. Dias depois, com olhos vermelhos de tanto ler, o chefe do Comitê, não tendo constatado nada diferente de palavras e mais palavras, apenas exclamou: “Ave, palavra!”

Demos o assunto por encerrado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress