Nossos pesquisadores andavam pesquisando aquela velha máxima que reza-porque-reza que ‘o que está embaixo é como o que está embaixo’, então, pensaram eles: nessa linha, seria possível dizer que o que está fora é como o que está dentro?
O que tornaria bela a feia realidade: dar um banho de loja? Pintar de cor-de-rosa? Ou seria como dar uma mão de tinta em parede com vazamento, que cedo ou tarde vai vazar de novo? Se o sujeito vê na realidade o que ele quiser, pra que realidade? A realidade não teria habeas corpus para ser pura e simplesmente como é, e precisaria sempre ser chancelada pelo olho alheio, quer dizer, pelo olho humano? Se fosse reprovada por olhos cruéis e impiedosos, teria a realidade que ser outra? Mas que realidade seria essa, uma realidade fracote, desprovida de caráter? Sem autonomia para se impor? Mudando a bel prazer de olhos, ora invejosos, ora complacentes, ora críticos, ora dementes? Na verdade, sendo obrigada a mudar, porque os olhos não lhe dão nenhuma alternativa?
Então, ‘pão, pão, queijo, queijo’ deixou de ser ‘pão, pão, queijo, queijo’? Então, dependendo do gosto do freguês, pode virar ‘pão, pão, moela, moela’, ‘pão, pão, queijadinha, queijadinha’, ‘pão, pão, jaca, jaca’, ‘pão, pão, couve-flor, couve-flor’?
Nossos pesquisadores estão pesquisando o seguinte: se o sujeito comer ‘pão, pão, queijo, queijo’ e achar que está comendo ‘pão, pão, biju biju’, ou ‘pão, pão, tremoço, tremoço’, ou ‘pão, pão, fígado, fígado’ – tudo bem, tem maluco pra tudo no mundo, mas não é porque o sujeito acha que está comendo biju que o queijo deixou de ser queijo; que tremoço é queijo, que fígado é queijo.
Como tem maluco pra tudo no mundo, pensaram nossos pesquisadores, vai ver que o sujeito está tomando gato por lebre porque acha a lebre mais bonitinha, mais charmosa, mas nem por isso o gato deixou de ser gato.
Atualmente, nossos pesquisadores estão desenvolvendo uma variação desse estudo, que parte do famoso adágio ‘quem ama o feio bonito lhe parece’. Em outras palavras, a realidade externa pode ser o que for que não interessa; interessa única e exclusivamente o que ele está projetando sobre a realidade.
Como nossos pesquisadores estavam à época em negociação salarial, sugeriram que ao receber o contracheque, que olhassem os poucos zeros como muitos zeros que aí ganhariam mais!
Concorda?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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