Chamou a atenção de nossos pesquisadores o uso e o abuso da referência acima, particularmente quando não havia, digamos, interesse, em pesquisar qual seria esse conteúdo, a serviço de quem, pago por quem e por aí vai.
Porque, convenhamos, é uma bela solução que não soluciona nada, e, na verdade, só funciona para exemplos e situações muito simples e corriqueiras. E coitado do carteiro, mero trabalhador entregando uma carta com um comunicado de despejo, ou com o a comunicação de que o receptor foi contemplado com uma herança da qual não tinha conhecimento até então, ou um resultado ruim de um exame médico, ou a notícia de que o filho foi aceito em uma universidade estrangeira, ou uma mensagem do advogado dando fim a um processo que se arrastava há anos e anos, ou o ‘aceite’ de um empréstimo que você solicitou. Nos casos em que a notícia é considerada positiva, só vai faltar dar um beijo no carteiro; nos casos em que a notícia é considerada negativa, a reação pode varia de um “E você me traz essa notícia!?” a, quem sabe, um sonoro palavrão para o pobre coitado do trabalhador.
Agora, vamos imaginar que a comparação está sendo usada para justificar o conteúdo de uma revista, ou de alguma notícia em particular dentro dessa revista. Quando isso acontece, o sujeito que usa a comparação está querendo dizer que se eu, você, quem quer que seja, não está concordando com o conteúdo da dita matéria, resta a esses desqualificar o mensageiro, quando na verdade não está havendo concordância com a mensagem, que não estaria sendo aceita, porque contraria a visão de mundo do leitor, esse cretino, burro, desavisado que não abre a cabeça para entender e aceitar que o conteúdo da matéria está mais que certo, que é mais que verdadeiro – e esse cretino, burro e desavisado seríamos eu, você, leitor, e quem quer que seja.
Mas, agora, você, nosso leitor inteligente, tanto que é nosso leitor, acha que a comparação procede? Se, por um lado, o mensageiro-carteiro não tem de fato nenhuma responsabilidade sobre o conteúdo de uma carta da qual não participou em nada da redação do conteúdo, o mesmo poderia, usando-se os 2 neurônios que estão mofando dentro da cachola, ser dito de uma revista (poderia ser qualquer outro veículo de comunicação), considerando que ela está fazendo um papel dois-em-um: é ao mesmo tempo responsável pelo conteúdo como é ela própria quem o está entregando?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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