Nossos pesquisadores estão cansados de saber que entre aquela meia dúzia de perguntas básicas que todo ser humano faz há duas de particular destaque: de onde viemos? Para onde iremos? Sobre isso, há uma vastíssima literatura, oriental e ocidental, tentando responder o que havia antes de tudo existir e o que haverá depois que tudo acabar. Mas, como todos sabem, há muita gente que pensa que tudo sempre existiu e, assim, sempre existirá. Não tendo havido começo, por que teria fim? Que importa se o amor acabou, se, mesmo tendo acabado, é eterno? Por que deixar de pecar, se o perdão está aí justamente para isso, perdoar sempre que se peca?
Nossos pesquisadores especularam se essa despreocupação com origens e consequências não seria assim coisa de gente que pensa que não tem que pensar na vida, afinal, de que adianta, se tudo está aí desde sempre e para sempre? Mas, perguntaram nossos pesquisadores: se você está aí desde sempre e sempre estará, isso não significa que você tem também responsabilidade e culpa no cartório? Que vida é essa que se vive assim – vida vã?
Nossos pesquisadores decidiram, ao revés de pensar em extremos (que têm aquele curioso dom de se parecerem muito), pensar no meio, mais exatamente, no que haveria entre o que estaria lá no início, no marco zero de tudo, e o que estaria lá depois do último dia, no fim dos tempos já então consumados, no dia D+1? Foi essa a pergunta que eles decidiram fazer aos entrevistados, e as respostas têm exigido muito da capacidade de entendimento dos nossos pesquisadores.
Ora, responde a totalidade dos respondentes, o que existe no meio além da vida?! A vida é o próprio meio! Mas, insistem nossos pesquisadores, o que é isso, vida? Ora, vida é vida, o que mais poderia ser? Ora, vida é viver? Mas, o que é viver? Ora, viver é o que se vive no dia a dia? E o que se vive no dia a dia? Pegar ônibus lotado, viver de salário de fome? É isso vida de viver?
Será que algum dia, de alguma forma, a fome de ter essa pergunta respondida será saciada?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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