O homem é um animal que acredita. Mas, quem acredita, deve acreditar em alguma coisa. Se
você se recordar das suas aulas de gramática (gramática é um dos ramos de estudo da língua, não se
refere a um alimento), acreditar é um verbo transitivo direto, ou seja, exige um objeto direto. Assim,
quem acredita, acredita em alguma coisa – em quê? Acredita no que quiser: na vida após a morte; que
os homens um dia agirão como irmãos uns dos outros; que os políticos são humanos, não ratos; que
cenoura crua é mais gostoso do que pastel de feira; que seu chefe irá reconhecer e recompensar seus
esforços, dando uma ninharia de aumento; que segunda-feira da semana que vem, sem falta, você
começa aquele regime adiado desde sempre; que o trabalho enobrece o homem e não existe para
engordar as contas do patrão; que não existe nenhum interesse oculto por trás de uma gentileza; que
gnomos habitam as florestas e quando vêm à cidade não andam de metrô; que Deus é brasileiro
(existindo ou não).
O que chamou mais atenção em nossa pesquisa pode ser resumido naquele velho
questionamento: é ver para crer? Ou, para crer, é desnecessário ver? Das duas, uma: se é necessário
ver, é porque crer por si só não é garantia de nada; por outro lado, se não é necessário ver, pode-se crer
a torto e a direito, em que se quiser, e aquele assento no metrô hoje de manhã não estava vazio, mas
ocupado por um gnomo verde e orelhudo. Sem contar que Deus veste uma camisa verde e amarela e
seu número, claro, é dez.
Um de nossos pesquisadores relatou um fato interessante.
Desconfiado de uma resposta bastante eloquente (“É claro que é preciso ver. O homem é um
ser de visão. Temos que ver cada vez melhor para poder ver mais!”), ele perguntou pela profissão do
entrevistado. Resposta: médico. Especialidade: oftalmologia. Ao ver que nosso entrevistador usava
óculos para escrever na prancheta da pesquisa mas o tirava para falar com ele, prontamente apresentou
seu diagnóstico: “O Senhor sofre de presbiopia. Está com a vista cansada”. E, prontamente, ofereceu
seus préstimos profissionais, entregando seu cartão de visita. Apenas de volta ao escritório nosso
pesquisador pode ler as letras miúdas: não aceitamos cartão, apenas dinheiro.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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