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Anarquismo é a teoria política de quem,
quando pequenino, não teve torcido o pepino

Nossos pesquisadores estavam tentando entender um comportamento que para eles soava um bocado estranho. A vida em sociedade exige uma série de regramentos para que ela possa mostrar que é uma opção melhor do que um regime no qual cada um faz o que bem entende e que o próximo que se lixe. Sem esses regramentos, não se pode falar de vida em sociedade, de vida civilizada, em um tipo de vida em que se ganha mais do que se perde. Resumindo: para que todos possam ganhar, cada um tem que perder. Nossos pesquisadores observaram, no entanto, que tem gente que não larga a rapadura das próprias ideias nem mesmo com reza brava. Essa gente colocou na cabeça que a civilização é uma tremenda carteirada, uma espécie de roubo institucionalizado, que vida ordenada só pode ser vida sem graça, e que essa ordenação está aí para impedir que o sujeito saia por aí lindo, leve e solto. Descobriram mais: que quem pensa assim vê no humanoide ao lado um sujeito tosco, primitivo, meio burro (às vezes inteiramente burro), que respeita a ordenação civilizatória porque não tem capacidade de pensar a própria vida individualmente, que paga imposto depois de trabalhar de sol a sol feito um escravo, com isso ajudando a manter um esquema de vida que deveria ser explodido. Se não têm talento para nada mais do que isso, esses que trabalhem, que aqueles vão dar um jeito de se aproveitar.

Ainda mais intrigante para nossos pesquisadores foi constatar que muitos dos que pensam que o mundo está aí à disposição deles justificam sua opção citando como exemplo de vida sadia a vida da selva. Mas – pensaram nossos pesquisadores – esses não sabem que entre os macacos (para citar o exemplo zoolófico supostamente mais próximo de nós) existem regras de comportamento que, desrespeitadas, podem acarreatar no banimento do infrator? Não sabem que mesmo se existissem apenas dois humanoides na face da Terra, ainda assim, com essa população, haveria regras? Nossos pesquisadores estão concluindo que se essa gente se julga assim tão superior, tão independente, tão capaz de viver sem outro humanoide para discutir os resultados da última rodada do campeonato de futebol ou para meter o pau no governo que rouba sua renda, então que brinquem de ermitão. Quem sabe uma temporada em uma cabana no meio da floresta mostre o que eles estão perdendo.
Só lembrando: que façam uma casa com gravetos, sem derrubar nenhuma árvore, que construam a própria cabana; nada de comprar um kit de montar para brincar de homem da montanha.

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