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Aproveitar a vida depois da aposentadoria é
lamber o palito do que a vida inteira não passou de um picolé

Confessa, vai?! (Não você, um legítimo Canis&Circensis!) Mas todo mundo, ou quase, o que dá mais ou menos no mesmo, pensa que depois da aposentadoria vai poder fazer tudo o que não fez antes, seja por falta de tempo, ou outro motivo qualquer. Fazer e aproveitar, já imaginou?! Aquele jogo de bocha (atenção: a palavra não tem a letra “r” depois da letra “b” e antes a letra “o”) com os outros aposentados; aquele papo de como eram melhores os tempos de outrora, tempos de verdade, não esses tempos de falsidade e mentira das modernidades cheias de novidades nada-a-ver; tempos das coisas em ordem, tempos em que a ordem dava a ordem das coisas, uma ordem, afinal, onde já se viram duas ordens? Seria como se fossem duas verdades – outra das maluquices das modernidades sem eira nem beira, modernidades duas-caras. Então, nada mais natural e normal (olha aqui a ordem de novo) de que as coisas acontecessem a seu tempo e hora – e com a aposentadoria não seria diferente, ora, ora! Depois de uma vida) de luta e trabalho, todo dia útil (e todo dia era útil, porque como o dinheiro nunca chegava até o final do mês, era hora extra no sábado e um bico qualquer no domingo); depois de toda uma vida inteira aguentando chefes e mais chefes, um mais pilantra e incompetente do que os anteriores, mas bastava aguardar que o próximo chefe seria ainda pior, com certeza, que as coisas só podem mesmo piorar quando saem dos trilhos da velha e boa ordem que sempre manteve o mundo em ordem até que as modernidades tirassem o chão de todas as coisas; depois de toda uma vida aguentando aquela vida de linha de montagem, aquelas piadinhas sem graça e com risos ainda mais sem graça, tipo relógio-que-atrasa-não-adianta; se-eu-penso-eu-não-falo, se-eu-falo-eu-não-escrevo, se-eu-escrevo-eu-não-assino; na vida tu passa, a começar da uva, entre outras pérolas do dia-a-dia de tédio de todos os dias de uma vida inteira consagrada esperar o momento certo para fazer as coisas que gostaria de fazer, tipo o momento da aposentadoria. Mas, perguntam-se os Canis&Circensis, como fazer aos 48 minutos do segundo tempo, quando além de não se ter mais tempo, não se tem saúde e o dinheiro mal dá para pagar a mensalidade do Clube dos Amantes da Bocha? (de novo: a palavra não tem a letra “r” depois da letra “b” e antes a letra “o”)

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