O segmento de autoajuda é o mais próspero do mercado editorial, inclusive entre povos que preferem se educar vendo programas de auditório (ou talvez por isso). Não que essa prosperidade, no caso brasileiro, possa ser comparada à do mercado de venda de quebra-queixo para banguelas (longe disso!), mas, considerando o interesse médio que um livro qualquer desperta, semelhante ao de uma passeata de aposentados, era o caso de tentar entender esse fato atípico. Em busca de esclarecimentos, nossos pesquisadores foram atrás de editores, editoras, livreiros, livrarias, gráficas, distribuidores, autores, leitores.
O objetivo era simples: tentar entender o interesse do público por esse tipo de livro – como você observou, evitamos prudentemente usar, neste caso, o termo literatura. O que nos incentivou a isso foram as críticas da quase totalidade dos escritores cujas vendas, somadas, não vendem o que vende um simples pé de página de um livro de um autor de autoajuda. Essa relação entre vendas, qualidade e ciúmes merece uma pesquisa à parte, que desenvolveremos oportunamente.
Nossa pesquisa foi extensa, mas como não temos condição de reproduzi-la aqui em sua totalidade (quem tiver interesse em adquirir a pesquisa integral deve solicitá-la ao departamento comercial da FUNDAÇÃO CANIS & CIRCENSIS), selecionamos um aspecto que se revelou intrigante. Como todos sabem, a cultura literária de um povo não se destaca particularmente pela excelência das escolhas. Dito isto, nos surpreendeu um tipo de questionamento que esperaríamos apenas de quem conhece as vísceras do mercado (o que curiosamente não aconteceu). Muitos leitores, desconfiados com o fato de estarem lendo o mesmo livro de autoajuda, apesar de terem comprado exemplares diferentes de autores diversos, perguntaram por que esses livros eram classificados como de autoajuda. Esses respondentes entendem quando se fala que um livro é um romance, um livro de poesia ou de crônicas. Mas não entendem quando o livro é de autoajuda:
“Esse tipo de livro ajuda a quem, afinal?” nos questionaram.
Enviamos este questionamento para autores e editoras de livros de autoajuda. Ainda não recebemos a resposta.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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