Desde o início, nossos pesquisadores sabiam que estavam mexendo em caixa de marimbondo – ainda que o Aforismo refira-se metaforicamente a galinhas e raposas. Mas, leitor, fala a verdade: e lá a raposa está interessada em reflexões de consciência sobre sua atuação junto às galinhas? Em outras palavras: a raposa teria a melhor resposta quando o assunto são as galinhas? A raposa não seria parte interessada, aliás, muito interessada, de tal forma que permitiria a nós, pesquisadores impolutos duvidar da seriedade da resposta?
Salvo raríssimas e excepcionalíssimas exceções, que ladrão se reconheceria ladrão? Que corrupto se diria corrupto? Que banqueiro diria estar apenas interessado nos negócios dos seus clientes, e não única e exclusivamente nos seus lucros?
Voltando à raposa, se ela pensasse nas galinhas, morreria de fome. Se ela preservasse a vida das galinhas, morreria de fome. Se ela tivesse pena das galinhas, morreria de fome?
Seria meio assim como um batedor do último pênalti em final de campeonato, jogo até aquele momento empatado, o pênalti que decidiria quem seria o campeão, e aí, correndo em direção da bola, a torcida a ponto de ter um ataque de nervos, coração na boca, mas estádio em silêncio, dava para ouvir o voo de uma mosca, e, bem nesse momento de pura agonia, não é que o desinfeliz teria uma crise de consciência e tivesse dó do goleiro adversário! Compaixão fora de hora!
O que nossos pesquisadores estavam interessados em pesquisar era se o pensamento (ou consciência, chame-se lá como quiser!) seria assim tão autossuficiente a ponto de dar ele próprio o melhor julgamento sobre si mesmo, mesmo sendo parte evidentemente interessada.
Prezadíssimo leitor: ponha a mão na consciência, calce as sandálias da humildade, respire fundo e considere-se uma raposa que tem pela frente uma missão que vai colocar em questão suas habilidades mandibulares, mas não cognitivas: você daria alguma chance à galinha, có-có-ri-có!?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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