Não vamos nos esconder sob a capa da nossa indiscutível capacidade analítica, reconhecida em todos os butecos mundo afora. Mas, vamos nos permitir perguntar com toda a honestidade: o fato de você existir significa que você é real ? Ou, por outra: sua realidade confere existência a você?

Claro que, quando falamos de você, é do outro você (daquele seu colega traíra, por exemplo) e não você-você, aquele que nos lê com interesse e curiosidade.

Nosso interesse era tentar entender se para a coisa, qualquer coisa, adquirir o status de existir, essa mesma coisa precisaria ser de fato real? Seu amigo traíra não acredita ser o cara mais gente fina do mundo e que o mundo todo que não o vê assim é tudo um bando de invejosos? Para ele, o seu amigo, ele é “o” cara, vê-se assim, e a existência desse ser do seu amigo não tem a menor necessidade de ser real, concorda? Para ele, existência e realidade são uma só e a mesma coisa.

Tudo bem que você leitor pode alegar o seguinte: Canis & Circensis, mas o que não falta no mundo é gente pirada e soberba! E tanta, que chamar nossa sociedade de civilizada (quando o correto seria sociedade amalucada) não corresponde à realidade da existência, ou à existência da realidade, se assim quisermos. Em toda esquina existem aos milhares gente que faz da realidade uma extensão de si, uma espécie de puxadinho do que julga que é, ou de como gostaria de ser e, sobretudo de ser visto. Mas, como nem ela mesma acredita que acredita no que diz acreditar ser, então terceiriza essa constatação para o mundo, querendo que esse mundo constate a realidade sua existência (ou o contrário).

Ok, concordamos de início com a observação, mas o que não seguiria esse verdadeiro princípio? Por acaso, os números existiriam por serem reais, mas as letras, não? Se for verdade, essa mesma letra que você está lendo agora ficaria sob suspeição: é uma realidade tentando ser uma existência, ou seria o contrário?

Ainda bem que, durante a árdua discussão sobre esse tema, constatamos que os bolinhos de chuva com café eram suficientes reais para ganharem o status de existência no nosso paladar.