Tradicionalmente, considera-se Deus como o grande porto seguro capaz de fornecer toda a segurança que os viajantes (criados por Ele) merecem depois de ter perambulado por uma Terra (criada por Ele) inóspita e desafiadora. Mas, Deus não seria apenas o porto seguro depois do final da aventura humana. Mesmo durante a penosa passagem do homem pela Terra que Ele lhe destinou como casa, Deus seria o porto seguro ao qual os homens poderiam recorrer para tentar atenuar todas as aflições típicas da condição precária com que eles, homens, foram dotados por Ele: aflições amorosas, profissionais, existenciais, familiares, políticas, cívicas, de relacionamento.
Assim, todas as pessoas que sentem que a vida é um movimento inconstante, gerador de todo tipo de insegurança, teriam em Deus um porto para lá de seguro.
Nossos pesquisadores anotaram essas respostas e as aceitaram como característica de pessoas que têm no movimento não um aliado, mas um algoz. Mas, o espírito de inquietude, espírito científico, falava mais alto, dizia a eles que se o movimento faz parte da vida, por que da vida não faria parte o movimento? E se a vida é movimento, não teríamos nós, humanos navegantes, que fazer a nossa parte, aprender com quem entende dessa onda de equilíbrio no movimento, como bailarinos, surfistas, skatistas e slackliners? Se Deus fez a parte Dele, nos legando uma vida indócil e revolta, o que nos resta, resmungar? E o que é pior: no caso de uma queda (muito provável), ficar pedindo a Deus que faça a vida mais tranquila, quando seria mais razoável pedir forças para se equilibrar, e o que é melhor do que pedir, praticar a arte do equilíbrio no movimento?!
Nossos pesquisadores ficaram intrigados ao constatar posições tão díspares: como é possível ver em Deus tanto o porto, o lugar seguro aonde se quer chegar, como a ponte que a ele levará, mas ponte que não promete nenhuma segurança, ao contrário, ponte que oscila, balança, treme, movimenta, trepida? Mas, perguntaram-se nossos pesquisadores, não seriam esses aqueles que justamente poderiam ser chamados de pontífices?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
Canis Circensis – Copyright 2024 – Políticas de Privacidade