Nas últimas décadas, o estudo das ciências cognitivas tem evoluído enormemente. Esse desenvolvimento representa mais um capítulo na eterna disputa entre duas posições antagônicas: de um lado, aquela que diz que o mundo e a vida estão lá fora e nós estamos insulados aqui dentro de nós mesmos, talvez no coração ou no cérebro (quando este existir) e nada ou muito pouco podemos fazer em relação ao que está fora; a outra posição diz que o que está aqui dentro – que dependendo do ponto de vista pode ser chamado de alma, ou espírito, ou emoções, ou intelecto, ou razão, ou cérebro – influencia e mesmo determina o que está sendo visto lá fora. Esta última posição vem ganhando a simpatia de muita gente, principalmente porque ela nos colocaria em uma posição privilegiadíssima na criação. Em outras palavras, a realidade que criássemos não seria apenas a nossa realidade, mas a própria realidade. Curto e grosso: o criador seríamos nós.
Os partidários da primeira hipótese acham que os neurônios dos partidários da segunda hipótese estão mais perdidos do que cachorro (não os do Canis & Circensis!) em dia de mudança. Já os partidários da segunda hipótese acham que os neurônios dos partidários da primeira hipótese não deveriam ser chamados de neurônios mas de cordeiros, um rebanho que, não contente em pastar no campo, foi-se abrigar em um espaço teoricamente mais alto e nobre, que eles não teriam competência para frequentar.
Como sempre, diálogo que é bom, nada.
Mas, nossos pesquisadores não se deixaram levar pela intransigência de ambas as partes e se conduziram, como de hábito, com todo o rigor científico, ouvindo o que ambos têm a dizer. Da primeira posição, ficamos com o alerta contra a soberba, dispensando a advertência de que há assuntos que não se deve abordar. Da segunda, ficamos com o incentivo de sempre ir além, observando, contudo, que se o santo é de barro, recomenda-se vagar com o andor.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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