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Deus, uma obra aberta

Tradicionalmente, diz-se no seio da cristandade que Deus fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo. Este teria sido todo o tempo necessário para que Deus finalizasse sua obra. Sem entrar no mérito dos resultados desse trabalho, convenhamos: se o tempo de Deus é o tempo do calendário, seis dias é um tempo inimaginavelmente pequeno para fazer tanta coisa, mesmo talvez para um Deus – ou se a criação toda não levou mesmo mais que seis dias, não é à toa que Deus tem sido apontado como o modelo de eficiência máxima em seminários de planejamento e administração, modelo a ser seguido e imitado: Deus, o mais eficiente dos gerentes!

Nossos pesquisadores pensaram na situação oposta à visão ocidental tradicional: e se, ao contrário da ladainha clássica, a obra de Deus não tivesse sido concluída, mas estivesse ainda em curso? Os ideólogos do Deus-gerente só faltaram nos matar: ao comentarmos sobre a possibilidade de que a obra de Deus teria sido entregue ainda inacabada, exclamaram: “Então, Deus não seria um gerente eficiente, mas um mestre-de-obras relapso. Quem irá participar de seminários em que o modelo é um profissional incompetente”?

Incansáveis, nossos pesquisadores decidiram por outra abordagem. Ao constatar que Deus e sua obra são apresentados de acordo com o momento histórico, pensaram: em tempos modernos, em que destruir e desconstruir tudo é a palavra de ordem; em que é politicamente incorreto definir qualquer coisa porque definir é entendido como limitar; em que se pode até dar o ponto, mas jamais o nó, tem sentido apresentar a obra de Deus como inacabada. Se vivemos atualmente o momento em que Deus deixou o terreno seguro de abadias, igrejas, conventos, centros, ashrans, mesquitas e terreiros e caiu no samba e no pop; momento em que a palavra final sobre Deus está com que estiver com a palavra no momento, então a obra de Deus só pode mesmo ser uma obra aberta.

Apesar de toda essa complicação, o que está de fato preocupando nossos pesquisadores é outra coisa. Se a principal obra de Deus for ele próprio, quem está aberto a tudo não são suas as obras, mas o próprio Deus, certo?

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