Quem se deixa governar é submisso mesmo por definição, e, por isso mesmo, merece o governo que irá governá-lo? – e depois não adianta reclamar, que o bispo não está nem aí! Cada um que se governe, ou melhor, que se autogoverne, porque eleger alguém é alimentar corvo (que depois irá comer os olhos de quem votou e de quem não votou).

Nossos pesquisadores estavam interessados em entender o que é causa e o que é consequência nessa relação entre governantes e governados, ou se ambos se merecem, e, se ambos se merecem, quem nessa história é o vírus e quem é o hospedeiro que estaria hospedando o vírus que não vai matá-lo não por piedade, mas por que não tem outro forma de viver. Assim, até dá para entender por que o vírus é um sem-vergonha, que quer viver como outro qualquer, mas o hospedeiro! Qual é a sua, hospedeiro?! Que o vírus tenha um caráter gelatinoso, ele está na dele, mas, e tu, hospedeiro?, tão orgulhoso, tão dono-de-si, tão inflexível?! Como pode se prestar a esse papel verdadeiramente infame? Só falta dizer que está agindo assim porque toda forma de vida merece uma chance, e como todo mundo erra na vida, ele vírus também erra, e quem seria ele, hospedeiro, a ter a verdade última sobre coisas que ele não controla, que não domina, e, por isso, não tem nada que ficar julgando! Se o vírus merece abrigo, ele, hospedeiro, vai abrigá-lo – ora, ora, se neurótico se dá bem com psicótico, psicótico se dá bem com neurótico, a bem da vida psíquica de ambos e que não gostou que vá chupar o que lhe der mais prazer em colocar na boca!

Só falta agora decidir quem é quem: se o governo é o vírus e o povo o hospedeiro, ou, ao contrário, se o povo é o vírus e o governo o hospedeiro? Ou se, como neuróticos e psicóticos, um não vive sem o outro?

Ou, acaso, será você, leitor, a querer se meter em briga de marido e mulher? – se bem que, pensaram nossos pesquisadores, com o crescente número de possibilidades sexuais, em que homens não são assim mais tão homens, nem mulheres assim tão mulheres (o que existiu bastante ao longo da história), hoje em dia ninguém sabe o que vai dar… ou quem vai dar!

Ou, ainda, se ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, então, estão todos perdoados!