Durante muito tempo, o futuro era o fiel depositário das nossas esperanças. Esperanças políticas, econômicas, amorosas, financeiras, comportamentais, culturais, sociais, estéticas, não importa – no futuro tudo seria diferente, e para melhor. Por trás dessa ideia, havia uma outra ideia, a de que o atual momento, o único sobre o qual nós temos um dedinho de certeza, era uma espécie de warm up do momento verdaderio e glorioso, aquele que o futuro nos traria um dia, oportunamente. Muito do que o futuro trouxesse estaria ligado ao nosso merecimento – afinal, o futuro, ao contrário do Sol, não se mostra radiante para todos, mas apenas para aqueles que fizeram por merecer.
Como seja, é no futuro que a vida aconteceria em seu esplendor. No futuro, teríamos uma casa melhor, com a grama mais verde; com o diploma de MBA em algum curso-mandraque qualquer, conseguiríamos um emprego melhor; sem falar no amor: o princípe encantado ou a princesa maravilhosa estariam lá no futuro, aguardando apenas que chegasse o momento em que nós os merecêssemos. E a política? Não seria ela a atividade mais utópica dos homens, aquela que faz esperarem os esperançosos eternos de plantão? A sociedade justa e fraterna – é lá onde ela está, no futuro!
Por economia de tempo, nossos pesquisadores optaram por não estudar esse aforismo à luz das ideias religiosas. Segundo eles, independente da religião, todos esperam a volta do Messias – o que varia é o nome desse Messias.
Interessava aos nossos pesquisadores entender se na espera desse momento fugidio feito miragem não estariam os esperançosos deixando escapar pelas mãos a vida que se tem, e não outra, esta ou aquela lá. Além disso, outra questão açulava a curiosidade dos nossos pesquisadores. E se, por alguma dessas voltas que a vida dá o tempo inteiro, tivéssemos acesso ao que o futuro nos reserva de fato. Teríamos no futuro o dinheiro que achamos que teríamos o direito de ter? E o princípe encantado – não estaríamos diante de um velho sapo comedor de moscas? E se a princesa encantada tivesse joanete e bafo de onça? E se o futuro não fosse outra coisa que o presente, o mesmo presente que conhecemos, que vivemos e do qual só abrimos a boca para falar mal?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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