O ser humano e suas obsessões. Uma delas, não sabemos se a maior, mas certamente uma das maiores, diz respeito ao todo, ao que seria o todo e sua pretensão de totalidade, de tudo e todas as coisas.
Nossos pesquisadores até entendem, tudo bem, essa obsessão pelo todo: afinal essa obsessão vem de quem é tudo menos todo, ou o todo, eu, você, qualquer um de nós, humanos, diminutos e mínimos e falhos e errantes e errados e inconclusos e imperfeitos e claudicantes e sonâmbulos e vacilantes (pra não dizer vacilões) e incompletos e inoperantes e inacabados e coxos, e defectíveis e e falhos e frustrados e grosseiros e imprecisos e defeituosos e ordinários e irregulares e corruptos e corruptíveis e reles e obtusos e toscos e rústicos e rudes e incorretos por natureza – diante de uma tal capivara (a tal da ficha corrida), não é de estranhar que, para superar tanta pequenez, não façamos por menos, queremos mais, o mais, o completo, o todo e o tudo, sejam isso o que forem.
Para completar o complexo de grandeza, incluímos a operação matemática que representa união, juntamento, a soma. Somando as duas palavras e os conceitos que elas carregam, daria alguma coisa por aqui, sustentam nossos pesquisadores: de um lado, o todo, e, do mesmo lado, lado-a-lado, a soma. Mas, essa linha de raciocínio tem uma dificuldade: o todo é a soma das partes? Para se chegar ao todo o único caminho possível é somando tudo que está á volta, em cima, embaixo, do lado, à frente, atrás, a leste, a oeste, a norte, a sul – gente, isso não vai dar muito trabalho, não?! Parece coisa de matemático, ou de físico, ou de engenheiro, ou de estatístico, ou de contabilista! Que canseira!
Pensando nessa dificuldade, nossos pesquisadores pensaram no caminho justo o oposto dessa somatória toda. Ao invés de somar, então, o negócio é diminuir, tirar, subtrair, largar mão, jogar fora, deixar de lado, abandonar, desapegar. Muito mais fácil, concorda?
No entanto, nossos pesquisadores já detectaram dois problemas, pelo menos: o primeiro é que ser humano não rima com desapegar (se bem que rime com subtrair e abandonar); o segundo: não queremos entrar em falsas polêmicas com donos de granja, que já vão começar com aquela velha ladainha, de quem nasceu primeiro: o todo ou as partes?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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