Anterior
Próximo

Entre realidade e palavra existe uma total assimetria de informação

Parece que nossa análise da relação entre a palavra e a realidade feriu suscetibilidades as mais diversas. Parece terem-se sentido ofendidos gente da religião, das artes marciais, das ciências agrícolas (convencionais e alternativas), dos fenômenos astrológicos e astroilógicos. Estrahamos a ausência de linguistas, filósofos, poetas, escritores de tudo que é estilo, de conto, crônicas, romances. Por que essa gente não protestou? Uma das respostas que levantamos lembra aquela velha história do sujeito que está vendendo o carro: para não gastar muita grana, passa massa ao invés de fazer uma funilaria decente, depois pinta, e o carro fica lindão! Como ele não vai reconhecer que fez essa gatunagem, tudo que é desavisado vai acreditar estar diante de um carro com funilaria tinindo! E a única coisa de real que aconteceu foi uma mentira! Se o carro pudesse se mostrar em sua real condição, não apenas mostraria esse problema como diversos outros, mas aí o preço do carro cairia muito e o proprietário ficaria no prejuízo. Então, é melhor que a realidade não seja verdadeira, muito menos que seja uma verdade. Um de nossos pesquisadores assim resumiu a situação: o que é, não aparece como tal, em sua realidade; o que aparece, nem de longe é a realida do que de fato é. Sabendo que nossa pesquisa caminhava nessa direção, um poeta que teve acesso a ela, mesmo quando ainda estava sob sigilo (Quem vazou a informação?), protestou. Enviou-nos um longo texto defendendo fortemente a capacidade da palavra de representar da forma mais fidedigna possível o que estivesse representando. Até aí, nenhuma novidade: cada um puxando a brasa para sua sardinha. O que nos chamou a atenção foi a seguinte parte da argumentação: “por que na crítica que vocês da Canis & Circensis fazem da palavra, e a suposta traição que ela faria das coisas que representa, não tem uma única palavra que diga que, mais do que representar a realidade, o que a palavra faz na verdade é apresentar a realidade a ela própria, que não teria outra maneira de se conhecer senão através da palavra, que não teria outra maneira de existir senão pela palavra. Ora, tudo tem um preço na vida, e se a realidade não está contente com os serviços prestados a ela pela palavra, que arrume outra solução. Vocês Canis & Circensis só veem mal nas coisas, que a palavra está traindo a confiança da realidade, mas se esquecem do duro que as palavras dão em favor da realidade, e como muitas vezes melhoram o que é naturalmente pobre e limitada, a realidade ela própria”. Ficamos sem palavras, leitor!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress