Dinheiro faz diferença?

Não precisa nos xingar: não nos referimos à vida material de todos nós, vida de pagar boleto invariavelmente vencido, vida de não ter como quitar dívidas em tempo hábil; vida de não ter como pagar educação de qualidade para os filhos; vida de não ter como viajar para o exterior, vida de não ter dinheiro para trocar o carro velho de 15 anos; vida de não ter como frequentar boas livrarias e adquiri bons livros; vida de ter que economizar na pizza, substituindo a de 4 queijos por uma de muçarela pura e simples; vida de substituir remédio receitado por remédio genérico; vida de ter que adiar tudo que não for absolutamente urgente para quando for possível; vida tipo cartão de crédito: gasta agora (porque não tem outro jeito), mas que vai ter que pagar lá-na-frente (também não vai dar, então, vida de pagar-lá-lá-lá-lá-na-frente, sob o peso de juros escorchantes); vida de comer restô-dontê, porque ir ao supermercado é entregar a carteira aberta pro dono do supermercado; vida de substitui manteiga por margarina; vida de substituir presunto por apresuntado; vida de comer mortadela e arrotar peru; vida de colocar fita crepe no tênis do filho, porque nem pensar dinheiro para tênis novo; vida de muitas e múltiplas dificuldades, de múltiplos reveses que têm quem não têm dinheiro suficiente para si e para os seus.

No outro lado do espectro, tem gente (bem menos numerosa do que aqueles do grupo acima) para quem não falta dinheiro. Não faltando dinheiro, não faltam viagens ao exterior; não faltam roupas boas (e muitas vezes cara); não faltam bons sapatos; não faltam caros perfumes; não faltam bons restaurantes; não faltam comidas importadas; não faltam recomendações e indicações para bons empregos; não falta tempo para curtir a vida (afinal, essa gente tem tempo de sobra, pois não precisa trabalhar, porque quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro e eles não vão perder tempo com essa atividade manual e braçal e corporal de trabalhar); não faltam opções de férias no campo ou na praia, no próprio país ou no exterior.

Mas, do que a gente estava falando mesmo? Das enormes vantagens de ter dinheiro e das enormes desvantagens de não ter dinheiro? O que você acha, leitor?