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Milkshakespeare

Se perguntarmos a um agricultor como anda a cultura, ele vai responder pensando no arroz, no milho, no tomate, na mandioca, na cenoura, no nabo, no feijão – não resta dúvida de que todos eles, brotos e leguminosas, são culturas, diferentes tipos de cultura, cada um deles produzindo algo diferente da outra cultura. Essa diversidade cultural não esgotaria a terra, sendo, ao contrário, diretamente responsável por manter a fertilidade do solo.

Com isso em mente, nossos pesquisadores foram às ruas perguntar: é possível pensar da mesma maneira no plano simbólico? A cultura simbólica (livros, música, teatro, gastronomia, cinema, dança, artes plásticas, grafite) não deve ser exatamente como a cultura agronômica: quanto mais diversificada, mais rica? E, também: a cultura simbólica não deve ser como a cultura agronômica, diversa e de convivência pacífica? Coerentemente com a proposta, nossos pesquisadores fizeram a mesma pergunta para diversos grupos sociais, adaptando essa pergunta ao grupo que estivesse sendo perguntado.

No caso do grupinho da alta cultura, perguntamos: você acha que Shakespeare pode ser pop sem deixar de ser Shakespeare? Pop – o que é isso?, nos perguntavam. Só conseguimos explicar fazendo um trocadilho na língua original do poeta, aquele que está no título. As respostas, que só pudemos ouvir depois que o balão de oxigênio foi temporariamente deixado de lado, vieram entremeadas de muita tosse, pigarros infinitos e carregadas de perdigotos.

No caso do grupão da cultura popular urbana, fizemos perguntas gastronômicas: o que você acha de uma boa buchada de bode com muito creme de leite? E quebra-queixo com cobertura de marshmellow? E feijoada com uva passa e damasco?

A pergunta que fizemos para o pessoal do campo foi esta: o que você acha de uma dupla caipira chamada Bite & Byte? O resultado ainda está sendo processado. Mas, perplexos com a uniformidade das respostas, nossos pesquisadores especularam se algum gaiato não estaria embaralhando as folhas de pesquisa. Chegaram mesmo a pensar se as respostas não teriam sido combinadas. Afinal, como grupos tão diversos podem chegar exatamente à mesma resposta?

Aí, foi o momento de eles perguntarem a si próprios: será que convivência pacífica só mesmo entre o arroz, o milho, o tomate, a mandioca, a cenoura, o nabo e o feijão?

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