Nossos pesquisadores sempre mostraram-se encafifados com essa história de ser o homem, homo sapiens.

Pra começar, eles perguntam e se perguntam: quem fez essa classificação? O próprio homem! Então, há um nítido de conflito interesse – seria como Narciso achar feia a imagem que vê no espelho! Só por isso, já deveria ser jogada uma forte suspeição nessa classificação. Ou ao menos que se fizesse uma extensa pesquisa junto a outros públicos da criação, como bichos, plantas, árvores, e por aí vai.

Assim, vamos imaginar que fosse perguntado ao leão, dito o rei dos animais, o que ele achava dessa história de ser o homem um animal inteligente. Possivelmente, ele abriria aquela boca enorme, ameaçando o pesquisador, diante de pergunta tão ridícula. Se dotado de voz, não seria nada inesperado que ele replicasse assim: “Por aqui, já tem rei, esse que vos ruge, então, pode ir saindo fora antes que você vire almoço para nós”. Ou até: “Como pode considerar-se inteligente um ser que trabalha uma vida inteira para os outros, que ganha em média uma miséria, que passa a vida pagando boletos e acumulando dívidas, que não tem um minuto de sossego, que se diz irmão de seu irmão, que o apunhala pelas costas, que toma sua mulher e sua casa! Muito inteligente!”

Se a mesma pergunta fosse feita para um pássaro, um albatroz, recém-chegado de uma caçada, com um belo peixe no bico. Uma possível resposta: “Esse peixe, que me custa apenas uma caçada, depois de um belo sobrevoo pelo céu, o homem paga para ter?! Como assim?!

Se a pesquisa fosse estendida para as árvores, a reação não seria menos intensa e mesmo violenta: “Eu, uma árvore que forneço vida a uma série de seres e de gentes, que não cobro nada por isso, que garanto sombra pra quem tem está embaixo, incluindo bichos e árvores menores, que necessitam de sombra, e que vivo ameaça pela ação de um machado ou de uma motosserra, e isso em nome de um tal desenvolvimento que mais parece uma destruição – que inteligência existe nisso?

Diante de tanta evidência, nossos pesquisadores acharam mais inteligente suspender a pesquisa por tempo indeterminado.