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Nenhum neurônio é uma ilha (ou a síndrome tico-e-teco)

Se nenhum homem é uma ilha, por que um neurônio seria um ilhado? Você, certamente nosso leitor frequente, já está acostumado com os aforismos que nossos pesquisadores preparam, assim com cara de jogo de palavras (uma das críticas mais frequentes que fazem aqueles que não entendem que a palavra é fundamente isso, um jogo), mas que, bem observados, se parecem com uma cebola, camada em cima de camada, e como o caule (sim, cebola é um caule), não tem nenhuma semente. Essa, aliás, é outra crítica que nos fazem: podem ir tirando casca atrás de casca que não vai se chegar a lugar nenhum. Sugerimos a esses que tentem falar com Sidarta Gautama, que comparou o homem exatamente a uma cebola, e com a mesma ideia em mente. Se você não acreditar em nossa comparação, acredite na do Buda, mas você vai acabar chegando no mesmo lugar nenhum.

Críticas são muito bem-vindas por nós, e as duas que nos fizeram acima ajudaram nossos pesquisadores a reorientar o desvelamento do aforismo. Inicialmente, eles tinham a intenção de pesquisar se, do mesmo modo que os homens precisam viver em sociedade para se tornar homens (caso contrário seriam bestas, coisa que os animais definitivamente não são), quer dizer, não poderiam ser como uma ilha (senão ficariam ilhados, sem contato), o mesmo se passaria com os neurônios. Assim, um neurônio, para ser um neurônio, precisaria justamente de um como ele, outro neurônio. A inexistência de outros neurônios levaria um neurônio a não ter como agir como neurônio. Ele perderia sua função, não serviria para nada. Se o neurônio perdesse sua função, o mesmo não ocorreria ao homem? Nossos pesquisadores se caracterizam, entre outros predicados, pela generosidade, mas também nunca cogitaram abrir mão de dizer a verdade, doa a quem doer. Assim, como um neurônio, para ser neurônio, precisa de outro neurônio para que ambos possam ser neurônios, então, estamos
falando da existência de no mímino dois neurônios para que estes possam cumprir cada um sua função neuronal. Mas, em média, quantos neurônios há em um cérebro humano? Certas notícias dão conta da existência de não sabemos quantos milhões de neurônios, capazes de conversar entre si – o nome desta operação é sinapse.

Mas, não estaria havendo um superdimensionamento desses números, com a nítida intenção de justificar nossa condição de animal racional e superior, categoria que nós mesmos nos demos? (Nenhum animal foi besta o suficiente para participar de uma votação com resultado mais que previsível). Um número mais de acordo com a realidade não seria o número de membros daquela simpática dupla de esquilos?

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