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Ninguém reconheceria, se já não conhecesse

É possível conhecer algo novo? Ou conhecer algo novo é conhecer de novo? Conhecer pressupõe já ter conhecido anteriormente? O que haveria realmente de novo no novo? Ou uma novidade não passaria de uma roupa nova vestindo um corpo velho?

Nossos pesquisadores estavam muito preocupados com os rumos dessa pesquisa, porque, dependendo dos resultados, isso significaria dizer que uma parte (grande? Pequena?) do nosso trabalho não teria o grau de novidade que alegaria ter. Que o que estaríamos fazendo seria, no máximo, uma espécie de “restô-dontê” filosófico; um cozido de conceitos; um requentado teórico.

Não seria muito correto falar disso, mas sabe o que nos sossegou um pouco? Foi constatar que, tudo bem, poderemos não ser a última bolacha do pacote, nem sermos o rei da cocada preta, mas – pensamos – deve ter gente em situação muito pior do que nós. Exemplos não faltam:

Imagine você alguém pensando estar diante de uma verdadeira revelação (olha a partícula “re” de novo, indicando repetição) divina, como se estivesse sendo apresentado pela primeira vez à verdade última das coisas? Mas, pela lógica implacável de nossos pesquisadores, não estaria sendo essa uma experiência primeva, primeira, com tudo o que isso significa de originalidade, com seu caráter único, mas apenas e tão somente uma espécie de encontro do rosto com o espelho, com aquela sensação de familiaridade, de conforto, de não ter sido colocado diante de uma encruzilhada, que sempre exige uma decisão: para onde eu vou? Que caminho adotar? Que decisão tomar?

Para nós, não foi nenhuma surpresa que reencarnacionistas de diversos matizes ficassem particularmente interessados na continuidade da pesquisa, antevendo, para eles, um resultado mais que óbvio: sim eles estavam certos desde o início.

Ops, alto lá, protestou um de nossos pesquisadores: “Como assim, desde o início?! Início é ponto de partida, é marco zero, é tabula rasa. Se para conhecer é necessário antes já ter conhecido, então, esse marco zero não é zero coisíssima nenhuma, na melhor das hipóteses é marco um, é necessário, para que haja reconhecimento, que tenha havido antes um conhecimento…”

Antevendo que não haveria um final breve para essa discussão, sugerimos aos querelantes: “Por que vocês não tiram um par-ou-ímpar?”

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