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O futuro será como tiver sido

Nossos pesquisadores, ao esmiuçar o conteúdo deste aforismo, estavam interessados em entender um conflito que existe na compreensão do que nos aguarda lá na frente, o futuro. Se este, o futuro, é um terceiro momento lógico, resultado do encadeamento igualmente lógico de dois momentos anteriores (que simplificamente chamaremos de presente e passado), é porque estabelece com eles uma relação totalmente causal e determinada; ou se o futuro é uma espécie de filho pródigo e ingrato, desnaturado, que renega suas origens e vai se apresentar de uma maneira inesperada, irreconhecível aos olhos de quem o teria parido, menos sensível à sua origem e mais permeável à sua história e ao seu desenvolvimento. Do primeiro lado, futuro com cara de fórmula com cara de forma; de outro, futuro fortuito, indeterminado, possível quando muito, previsível jamais.

Em termos psicológicos, nossos pesquisadores constataram que, do primeiro grupo, fazem parte pessoas que, por sua vez, se dividem em dois grupos: um, constituído de gente que, pensando assim, pensa que em qualquer circunstância não há o que fazer, e de qualquer forma, faça-se o que se fizer, o futuro terá a cara do que for feito; o segundo grupo dessa subdivisão – fatalista como o primeiro – acha que é o futuro que está escrito, e, estando escrito, escreve ele, futuro, o que fazemos hoje no presente e o que fizemos ontem no passado. É a história vindo na contra-mão. Liberdade de marionetes.

O segundo grupo revelou-se de abordagem difícil, escorregadia. Psicologicamente, são filhos reptilianos da última geração de bits, mais inconstantes que eletron de porre, que teima em não estar no lugar em que deveria (quer dizer: que nós achamos em que deveria estar), que pensamento em cabeça de mulher em qualquer dia da semana, que caráter de político, que postura de uma maria-mole achando que não é uma geleca. O pouco que nossos pesquisadores conseguiram apurar dessa gente é que falar sobre o futuro é alguma coisa bem mesmo do passado, que lembra conversa sobre aposentadoria e sobre os bolos de fubá da dona Cotinha, comadre da mamãe, nenhuma sensação que se compare à percepção propiciada por neurônios estimulados por certo tipo de consumo, que fraturam a inteireza que se esperaria do contínuo das coisas, do tempo em que passado, presente e futuro eram uma só e a mesma coisa (só com cara diferente).

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