Entre aquelas dúvidas que tiram o sono dos nossos pesquisadores está a questão da característica gregária do homem. Pode-se chamar de homem quem cresceu tipo menino-lobo, quer dizer, quem foi submetido a uma socialização canina, ou melhor, lupina? (Para que não nos acusem de estarmos legislando em causa própria, nós aqui no Canis&Circensis não vamos falar nada sobre socialização canina.)
Mas, a bem da correta pesquisa científica, nossos pesquisadores consideraram não só a vasta literatura que afirma taxativamente que o homem precisa de homens para se tornar um deles. Fomos atrás do que dizia a literatura que dizia justo o oposto: entre os seus, o homem não passaria de um lobo, aquela que afirma que o homem é o lobo do homem. Essa ideia foi severamente criticada pelos pedagogos de nossa equipe, mas foi defendida pelos economistas, sempre de olho nas contas e nos números. Segundo esses, muito dinheiro seria economizado se os homens fossem educados entre lobos – o máximo que seria gasto seria talvez uma raçãozinha extra para os lobos, nada muito mais do que isso. Claro que sempre haveria a possibilidade de os lobos reclamarem da proverbial lerdeza humana (sem falar da avareza), que os homens demoram para aprender qualquer coisa, mas, comparando com o que seria gasto na pedagogia humana convencional, seria um bom negócio – caso os homens advindos da educação lupina não se comportassem como animais que são, e que foram ensinados a ser, seriam devidamente enjaulados no sistema prisional preparado para eles – assim, haveria outra fonte de renda: faturar com os meninos-já-homens-lobos encarcerados, “gente” que não é nem bicho nem humano, e não sabe se comportar de nenhum dos dois jeitos.
Diante do espanto das pedagogas, os economistas argumentaram que não haveria muita diferença entre a criação dada por humanos e por lobos, mal se notariam as diferenças. Se entre os homens o homem não passa de um lobo, então que aprendessem com os próprios, ora, ora! Se mal se entende o que os homens falam, que passem a uivar. Se estão sempre dispostos a aprontar alguma, que aprendam com quem tem caninos afiados. Um dos economistas até lembrou que não seria mais ‘olho por olho, dente por dente’, mas ‘orelha por orelha, canino por canino’ – e assim, alegaram, estaríamos escrevendo a história humana do ponto de vista certo, o ponto de vista lupino, que o homem nunca deixou de ser.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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