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O homem só é quando deixa de ser

Nossos pesquisadores estavam interessado em tentar entender um pouco melhor essa obsessão humana em ter que “ser” alguma coisa – por quê? Por que o homem tem quer ser alguma coisa, seja esta o que for?

Para piorar, neste aforismo está implícita a ideia de que o “ser”, seja lá o que isso for, não é apenas a coisa mais importante do mundo, como, justamente por isso, abandonar esse tesouro do “ser” seria uma loucura rematada, seria abrir mão da única coisa que a pessoa teria de verdadeiramente seu, do que a faz “ser” o que (pensa que) é. Imagine só o trabalho insano que é viver; o trabalho alucinado que é passar por todo tipo de experiência, tentar aprender com cada uma delas, crescer com elas; as dores e decepções que qualquer vida tem; as frustações, angústias, tristezas, mal-estares, desilusões, injustiças – enfim, tudo o que a vida é, e, sendo o que é, faz cada um ser o que é, cada um a seu modo, quer dizer, de acordo com seu ser.

Então, depois de tudo isso, e supondo que a pessoa não tenha ficado louca (como uns raríssimos seres que se pode muito dificilmente encontrar por aí), a única coisa que ela tem, ou seja, o ser, é justamente essa que este aforismo pede para ser deixado de lado, assim, sem mais nem menos, como bagaço de fruta à beira da estrada?! E, para deixar qualquer pessoa de bem de mal com a vida, o aforismo ainda tem a petulância de sugerir, sugerir não!, de afirmar que o homem só será alguma coisa depois de deixar de “ser”?! Como se o tesouro acumulado do “ser” fosse um ouro de tolo?! Como se o homem, para ser seja lá o que pudesse ser, tivesse que abrir mão justamente da única coisa que ele sabe: ser o que pensa ser!

Nossos pesquisadores apuraram que os respondentes achavam que esse tipo de aforismo só poderia ser coisa de comunista, que quer para si o que é dos outros; ou de algum terapeuta corporal argentino de cabelos longos, que estaria lançando na Califórnia um novo programa de despersonalização ôntica; ou de alguma versão 2.0 do dízimo.

Os entrevistados estavam espantados, e nos perguntavam: “se eu deixar de ser, serei o quê?”

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