O milho se importaria de ser chamado de beldroega?
O cacto, de alfazema? A anta, de jasmim? A realidade não deixará de existir como é se a palavra nomeá-la diferente

Nossos pesquisadores, cultos que são, imaginaram a seguinte situação: um filósofo alemão, de bigodinho, daqueles bem empertigados, por uma circunstância qualquer da vida – que a vida são só circunstâncias – vai parar no meio de Salvador, na Bahia, calor abrasador, de torrar o cérebro, e ele de roupa escura, fritando por dentro.

Muito bem: o chucrute, então, está lá no meio daquela confusão de gente pra cima e gente pra baixo, falando uma meia dúzia de palavras em português, e com a ideia na cabeça de tentar entender na real como vivem os nativos. Chamou sua atenção que todo mundo estava comendo uma comida que ele nunca tinha visto na vida. Parecia que todo mundo estava gostando, pela cara de satisfação, todo mundo repetindo a tal da comida.

Suando em bicas, o chucrute se aproximou de uma das barracas mais procuradas. Enquanto esperava sua vez de pedir, pensava: como eu vou pedir o que todo mundo estava pedindo … mas o que todo mundo estava pedindo? O que era aquilo que estava sendo frito? Como ele iria pedir? Só passava pela cabeça do chucrute nomes de comidas alemãs: Brezel, Königsberger, Klopse, Fischbrötchen, Sauerkraut, Eisbein, Spätzle, Leberkäse.

Quando finalmente chegou sua vez de pedir, vermelho de tanto sol na cara branca e gélida, o chucrute lembrou de uma palavra que poderia ajudá-lo: salsicha.

Nunca Nestor tinha ouvido pedido como esse. Mas, como o chucrute ao menos apontou o que ele queria (o mesmo que todo mundo estava pedindo), Nestor, vendo que era estrangeiro, caprichou no tempero.

Nunca se saberá se o Chucrute amaldiçoou a tarde passada na privada, nem a língua queimada. Nem nunca se saberá também se o acarajé sentiu-se ofendido por ter sido chamado de salsicha, nem se teria ficado menos saboroso.

Quem leu este Aforismo, leu também:

Antes de se configurar como doença, o câncer é uma demanda,
e não existiria como forma se não fosse para expressar uma função que estava sendo demandada sem ter sido atendida

O milho se importaria de ser chamado de beldroega?
O cacto, de alfazema? A anta, de jasmim? A realidade não deixará de existir como é se a palavra nomeá-la diferente

Quem leu este Aforismo, leu também:

Antes de se configurar como doença, o câncer é uma demanda,
e não existiria como forma se não fosse para expressar uma função que estava sendo demandada sem ter sido atendida

Se cobra comesse cobra a população humana teria passado dos 8 bilhões?

Deixe um comentário Cancelar resposta

O milho se importaria de ser chamado de beldroega?O cacto, de alfazema? A anta, de jasmim? A realidade não deixará de existir como é se a palavra nomeá-la diferente

Quem leu este Aforismo, leu também:

Antes de se configurar como doença, o câncer é uma demanda,e não existiria como forma se não fosse para expressar uma função que estava sendo demandada sem ter sido atendida

Se cobra comesse cobra a população humana teria passado dos 8 bilhões?

Deixe um comentário Cancelar resposta

O milho se importaria de ser chamado de beldroega?
O cacto, de alfazema? A anta, de jasmim? A realidade não deixará de existir como é se a palavra nomeá-la diferente

Antes de se configurar como doença, o câncer é uma demanda,
e não existiria como forma se não fosse para expressar uma função que estava sendo demandada sem ter sido atendida