Anterior
Próximo

O passado é sempre uma obra de engenharia reversa do futuro

Como todos nós estamos cansados de saber, o que não falta no mundo são especialistas em acertar antecipadamente tudo o que irá acontecer. Para esse tipo de gente é coisa simples e óbvia o resultado final de qualquer coisa, na economia, na política, no relacionamento, na sociedade: bastaria olhar o que aconteceu (o futuro presentificado) para perceber rapidamente que no passado estava tudo perfeitamente claro, só poderia acontecer o que na verdade já estava acontecendo quando estava acontecendo no presente (que virou passado) e que no futuro agora presente acontecesse o que aconteceu da forma mais natural do mundo. E só nós, o restante ignorante de toda a população humana, não percebíamos o que eles sábios viam antecipadamente em sua bola de cristal. Tolos, nós; sábios eles!

Chamou também a atenção dos nossos pesquisadores o fato de que esses sábios nunca estavam errados, principalmente quando erravam, ou se enganavam, ou se equivocavam, não importa: o que quer que esteja acontecendo nos presente já estava presente nas palavras pronunciadas pelos sábios, para as quais nós, os todo-mundo, fizemos ouvidos de mercador.

Leitor, fale a verdade, não importa o tema, o assunto, pode ser economia, unha encravada, política, cera no ouvido, sociedade, joanete, consumo, diarréia, sexo, espinhela, dinheiro, hemorroida, religião, ciclos planetários, tsunamis, dor de estômago, ejaculação precoce, relações internacionais – tudo estava predito nas palavras e nas explicações e nas advertências do sábio. Então, como está tudo totalmente certo e conforme, e, sendo assim, não há nada a fazer, e se se tentar fazer, a falha é mais que certa, o melhor mesmo é entender que, não havendo nada a fazer, nada será feito, mesmo porque, o que deveria ter sido feito, não foi: não demos ouvidos às explicações e advertências dos sábios. Mesmo o futuro não ousaria ser diferente do passado como os sábios dizem que foi, passado e futuro em linha reta, totalmente conectados e esclarecidos, sem um “a” de surpresa, que surpresa é coisa de gente ignorante: tudo estará como sempre esteve, tudo explicadinho, previsível. Nesse momento, nossos pesquisadores estão tentando entender se os sábio reduzem a complexidade da vida à própria capacidade cognitiva ou se não passam de uns preguiçosos – o que você acha?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress