É? Ou seria melhor chatear-se de forma não democrática, mas aristocrática?
Ou regimes não democráticos, ao pasteurizam tudo e todos, garantindo assim uma vida totalmente previsível e controlada, fazem da existência uma experiência comparável à animação que se vê em um chá das cinco de senhoras, ou a um jogo de bocha (atenção: não tem a letra “r” entre o “b” e o “o”) de senhores?
Fala a verdade, leitor: a probabilidade de você estar lendo esse Aforismo de um cara que tem aquela cara de chato, aquele sujeito que ao abrir a boca seria como se estivessem abrindo uma latrina, e você já tinha até reparado no modo dele de sentar, na escolha da camisa vermelha, totalemente descombinada com a calça roxa com desenhos amarelos, sem falar nesse cabelo que não sabe o que um pente há semanas. Aliás, reparou no mau gosto do desodorante? Perfume nem pensar!
E aquela mulher, com aquele cabelo, hein? Aquilo penteia? Como? Com chave de fenda? E esses anéis nos dedos do pé? Sem falar no esmalte, um de cada cor em cada uma das unhas? Como está calor, claro que ela está de camiseta cavada, sem sutiã, os peitos quase pulando pra fora, mas de camiseta cavada, dá para ver claramente que essa dita não sabe o que é depilar!
Pra completar, entra no metrô lotado uma velha visivelmente coscorenta, com aquela sacola cheia de exames médicos, e você que está tentando ler esse Aforismo tem que ceder seu lugar para ela. Você cede e, aí, ela puxa papo justamente com você: que os remédios estão pela hora da morte, que ela acha que o médico dela não está dando a devida atenção para o caso dela, que o saudoso Barbosa não era lá grande coisa como marido, mas ao menos deixou uma pensãozinha, e se a filha lhe deu dois netos antes de virar gay, só virou gay por conta da decadência do mundo, que hoje em dia ninguém respeita ninguém, tudo falindo, e que se o filho dela ainda mora com ela mesmo com 35 anos de idade é porque o saudoso Barbosa não puxou o pepino enquanto ele ainda era pequenino, e que se hoje ele não está indo ao médico com ela é porque ele bebeu muito ontem (“Sabe, ele bebe muito”) e está com uma ressaca que está rachando a cabeça, e que ela tem saudade do barbosinha, neto que ele lhe deu, mas que com a separação, ficou a mulher, aquela vadia, que se mudou para o Acre (“muito longe, não tenho direito para a passagem!”) e que … e que … e que … ela falou tanto que ele até perdeu a estação.
Mas, chegando em casa, finalmente ele poderia ficar como na aristocracia, entre poucos, só os melhores, só com o melhor, ele próprio. Seria só um chato para suportar, concorda, leitor?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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