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O que é preferível:
não falar o que se pensa, ou falar o que não se pensa?

Então, você está diante do seu chefe, que apareceu no escritório de peruca nova, um pouquinho mais ridícula que a anterior. Seja diferente do seu colega (que também é nosso leitor, então, cuidado!) e fale a verdade: você fica quieto (e preserva seu emprego); você elogia mesmo mentindo (preserva seu emprego e ainda pode ganhar uma miséria de aumento e a alcunha de puxa-saco dos colegas), ou você, não tendo coragem de mandar um “que ridículo”, dá um jeito de aumentar a potência do ventilador de tal forma que a peruca do chefe sofra um deslocamento que torna a cara do seu chefe ainda mais ridícula?

Fizemos essa pesquisa porque estávamos interessados em entender qual preço as pessoas estão mais dispostas a pagar: preferem não falar o que pensam, ou falar o que não pensam – e aqui, dependendo do caso, elas estariam ou mentindo, ou falseando a verdade, ou preservando o emprego.

Tudo bem que viver tem uns preços bem absurdos a serem pagos, ainda mais quando consideramos que esse preço é pago para viver uma vidinha que olha! nem te conto! Como seja, é a vida que se tem, chame do que quiser, e, partindo do pressuposto de que a maioria quer não só continuar vivendo como quer preservar os dentes ou o emprego, logo, ninguém vai abrir a boca para dizer que o chefe, em vez de cabeça, tem um escorregador de mosquito, e que, ao contrário, o tom da peruquinha, tipo assim, pendendo para a cor caju deu uma remoçada em um rosto que estava mais parecendo um campo de guerra – coisa que você não vai falar do e para o seu chefe, ao contrário, a peruquinha deixou o rosto mais redondo, ressaltou as bochechas murchas (você não vai falar murchas), inclusive, chefe, porque o tom da peruquinha (você não vai falar assim!) está combinando com a cor dos seus olhos – foi pensado, isso, né, e nenhum problema, porque um tantinho de vaidade todo mundo tem, além do mais, essa posição de chefe custou muito puxa-saquismo (você não vai falar assim!), muita dedicação da sua parte, e para estar à altura de tamanha promoção, depois de 20 anos de puxa-saquismo (você não vai falar assim!), de empenho e doação à empresa, que essa nossa (nossa de quem?) empresa de merda (você não vai falar assim!) ……. – a lista de adjetivos armazenada no seu fígado, com uma boca cheia de dentes pronta para expelir … bem, é melhor preservar os dentes!

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