Nossos pesquisadores estavam interessados em tentar entender por que as pessoas associam diretamente o silêncio à inocência, como se calar revelasse uma espécie de subdesenvolvimento psicológico, uma certa infantilidade, uma inapetência para o sofisticado da fala e suas exigências cognitivas e expressivas. Deste ponto de vista, o calar do silêncio demonstraria deficiência expressiva, motivado por motivos diversos: repressão, castração, desestímulo, bloqueio, falta de incentivo, carência.
A pesquisa foi além, estendendo-se da esfera meramente subjetiva para um comportamento civilizacional. Assim, o silêncio passou a ser altamente apreciado na comunicação entre os homens. Passou a ser considerado signo de distinção, índice de civilidade, demonstração de respeito, sobretudo para o status vigente das coisas. Silêncio passou a ser coisa de gente bem. Nada do oposto ao silêncio: nada de gritaria, nada de baixaria, nada de reclamo, nada de indignação, nada de reivindicação, nada de solicitação, nada de conversa, nada de contato, nada de papo, nada de interação, nada de verbo.
Diante desse quadro, nossos pesquisadores começaram a especular: se o aparelho fonador humano é um sistema altamente sofisticado, que custou um bocado de trabalho à evolução, sistema como nenhum outro igual em complexidade, capaz, dependendo do uso, de dar a vida ou promover a morte, por que uma maravilha dessas não poderia ser exercitada o tempo inteiro? Por que exercitá-lo seria assim tão problemático? Por que abrir a boca só para comer, bocejar, comentar sobre a novela e concordar? Por que do cala-boca? Por que de uma sociedade de mudos?
Para nossos pesquisadores, a preguiça e a inércia ajudam a explicar a preguiça de abrir a boca. Outra explicação seria o hábito. Como habitua-se a tudo na vida, deixar de abrir a boca não seria diferente. Dá para entender que exista quem não queira ouvir. Mas, por que damos ouvidos a essa gente?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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