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Quem nos acompanha cotidiamente sabe que a palavra, mais exatamente, a reflexão sobre a palavra é uma das obsessões de nossos pesquisadores, aqui na Canis&Circensis.
E que já fizemos diversos estudos aforísticos, analisando a palavra em sua miríade de reflexos – eita criatura que ama espraiar-se para tudo que é lado.
No caso aqui em tela, a análise pretende dar conta de uma qualidade (com a palavra não seria possível dizer característica, muito pouco para ela) bem particular, digna dos mais alucinados líderes políticos e religiosos, que repartem a condição da onipresença. Condição e pretensão. Para a palavra seria pouco referir-se a uma coisa qualquer, a qualquer substantivo (concreto ou abstrato), a qualquer situação (política, econômica, social, filosófica, científica), a qualquer fato da vida ou da morte. Pouco: ela quer se transmutar na própria coisa a que está se referindo. Ela quer se presentificar na coisa nomeada. Ser, no lugar da coisa nomeada, a própria coisa nomeada. O próprio fato nomeado. A própria situação analisada.
Desse ponto de vista, a palavra não aponta mais o dedo para o que mostrar. Se ainda fosse como uma travesti, passar-se pelo que não é, ser aquilo que não é, menos mal. Pouco para a palavra: ela quer ser muito mais travesti do que a própria travesti.
Leitor, atenção aqui: não estamos falando que a palavra se contente em nomear a coisa, em batizar a coisa. A partir desse batismo inicial, a coisa já não terá mais o direito de tentar ser outra coisa, nem conseguirá, porque a palavra, que já fez seu trabalho de mídia antecipadamente, divulgando-se agora como sendo a própria coisa, comprando o silêncio de todos, será assim a própria coisa daqui para frente. Ao batizar o que quer que seja, colocou a coisa dentro de uma jaula sem chave no cadeado.
Pronto: está finalizado o trabalho do vírus sendo hospedado pelo hospedeiro para todo-o-sempre. A palavra venceu.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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