As coisas, se justas e corretas, serão tudo o que poderiam ser? Ou sendo como são, não serão nada mais do que são, se tanto? Claro que é muito mais difícil imaginar que uma berinjela possa ser mais que uma simples berinjela – o que seria isso? Mas berinjela não é apenas um fruto da planta Solanum melongena, uma solanaceae arbustiva, anual, originária da Índia. Berinjela pode ser diversas coisas sem deixar de ser berinjela: berinjela ao molho, berinjela frita, lazanha de berinjela, suco de berinjela. Mas, nesses casos, ainda estaríamos no terreno da berinjela.
Agora, vamos imaginar o seguinte: um determinado sujeito, dotado de uma tal e avantajada e desproporcional e anômala condição nasal, que fazia lembrar justamente a solanaceae arbustiva, que fez com que ele recebesse o singelo e carinhoso apelido de ‘berinja’ (referência mais que clara!) – o sentido original da palavra teria transbordado da sua modesta condição agrícola inicial indo parar no protuberante nariz do narigudo.
Nossos pesquisadores não sabem dizer se a berinjela original está muito ou pouco se lixando por conta dessa apropriação, e se estaria interessada em cobrar royalties e direitos de imagem do narigudo. E se esse, se cobrado, cobraria parte do dinheiro de quem o apelidou – afinal ninguém apelida-se a si proprio. Sem contar o fato de que a obviedade erótica da imagem (se verdadeira ou falsa no caso do narigudo, não importa) poderia dar origem a desdobramentos que gerariam dinheiro, e quando tem dinheiro na jogada, todo mundo cresce o olho. Isso aqui não importa: importa é que o transbordamento da palavra a teria levado de sua inofensiva (ainda que potencialmente saborosa) condição agrícola e nutricional para a mente de quem sabe quantos milhares ou milhões de pessoas com problemas na área, que veriam no protuberante nariz um lenitivo para suas limitações e bizarrices sexuais. Falamos acima que dinheiro não importava nesse caso, mas importa, sim: guindada à posição de ícone erótico, a berinjela poderia alcançar picos de venda inimagináveis, o que faria disparar seu preço e gerar diversos negócios: de plantação vertical (ops!) de berinjela à confecção de chaveiros-berinjela, sem falar em apetrechos sexuais consoladores de qualquer carência – os modelos poderiam variar enormemente (ops!). Viu até onde a palavra poderia levar a dita-cuja?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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