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Para quem não vai a lugar nenhum, os homens estão com muita pressa

Para onde vamos depois de termos vivido uma vida como boneco biruta? Para tentar esclarecer a profundidade deste aforismo, nossos pesquisadores pensaram primeiro em esclarecer os termos da frase: o que a vida material e sua eventual continuidade não-material teriam a ver com um boneco biruta?

Primeiro: o que faz um boneco biruta? Fica se balançando como doido (daí ser um biruta), de um lado para outro, mas não tira os pés do chão, não sai do lugar.

Segundo: existe um ramo da filosofia que atende pelo nome de teleologia que, no popular da coisa, estuda os fins das coisas, estuda para onde vão as coisas, uma espécie de finalidade, portanto.

Assim, que finalidade teria a vida de um boneco biruta que, apesar de frenética, não vai a lugar nenhum? Quem a vida inteira não deu um passo sequer nesta vida chegaria a algum lugar, particularmente a uma outra vida? Quem se movimentou uma vida inteira viveu uma vida plena de sentido ou o máximo que conseguiu foi se cansar exatamente no mesmo lugar, tendo vivido assim uma vida que não passou de uma vida biruta? Só mesmo muito biruta para achar que, tendo vivido uma vida de biruta, poderia ter vivido uma vida que não tivesse sido uma vida de biruta.

Nossos pesquisadores especularam que cada vez mais acostumados a uma vida de tarefas a cumprir e principalmente de metas a bater – desde a performance sexual à performance de vendas -, acabamos achando que a vida é justamente isso, metas a bater, objetivos a alcançar. Ficar do mesmo jeito o tempo inteiro, a vida inteira, só poderia ser coisa de biruta (mas não é isso mesmo o que é um biruta, um biruta?).

Ou, ao contrário, pensaram nossos pesquisadores, o sentido da vida estaria em viver correndo feito um louco, tendo metas a bater o tempo inteiro, tendo satisfação a dar a tudo e todos: à vizinha fofoqueria, aos pais ausentes, aos mestres de mentirinha, aos professores desinformados, aos supervisores controladores, aos gerentes carrascos, aos diretores cruéis, aos colegas invejosos, ao síndico, ao zelador, aos governos?

Por acaso, viver parado feito biruta seria coisa de biruta e viver correndo feito louco não seria
coisa de biruta?

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