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Participar é melhor que pertencer?

O homem é um ser gregário. Assim, o homem, junto com outros como ele, estaria mais para associações, juntamentos, acampamentos, federações, confederações, tribos, clubes, clubinhos, patotas, agregados, torcidas e fraternidades do que para viver feito lobo na estepe, urso do Alasca ou eremita morador de alguma caverna em uma montanha inacessível.

Viver junto tem muitos inconvenientes, a começar do fato de que viver entre iguais significa viver entre malucos, mas tem vantagens inegáveis. Nossos pesquisadores foram a campo saber como as pessoas viam essa questão e, mais importante, como faziam para aliar na prática as vantagens de viver em sociedade com malucos com os senões da mesma situação. Ou, caso contrário, de que maneira seria possível se relacionar com malucos sem tornar ainda maior a própria maluquice, caso em que não haveria vantagem perceptível – estamos imaginando que, mesmo maluco, haveria um mínimo de bom senso no pobre e gregário mortal, e não estamos trabalhando com a hipótese de que o homem é um ser gregário fundamentalmente porque é um sádico, ou seja, como não aguentaria suportar sozinho a própria maluquice decidiu que a única maneira de suportar a vida é viver aporrinhando a vida de um infeliz que ele ainda por cima chama de irmão (o sadismo pode não ter limite).

Para se beneficiar das vantagens de pertencer à raça dos homens, o homem não teria alternativa senão viver entre os homens – como você percebeu, estamos considerando que pertencer a um gênero belicisita como o humano deve ter lá suas vantagens, mas ainda estamos tentando descobrir quais seriam. O que nossos pesquisadores estavam interessados em saber é se, no caso daqueles que acham que pertencer a um bando de alucinados como o homem não passa de uma rematada loucura, como eles poderiam viver entre os homens sem se tornar um maluco, quer dizer, um homem. 

Haveria, afinal, essa possibilidade? Seria algo assim como não ter que pertencer ao elenco da novela da vida, tendo que ficar decorando falas e mais falas repetitivas e emburrecedoras, esperando o tirano do diretor ter mais um chilique, antes de mandar regravar a mesma cena pela centésima vez, mas fazer apenas uma participação especial, aqui e ali, neste capítulo, em um outro mais adiante, e um outro lá na frente. 

Perguntaram nossos pesquisadores: visto dessa perspectiva, não seria melhor apenas participar (e muito eventualmente) dessa novela, ao invés de pertencer a ela?

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