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Por que Deus precisaria de um verme como eu?

Este tópico revelou-se de elucidação um tanto complicada, revelaram nossos pesquisadores. Segundo eles, a dificuldade residia no fato de equacionar a questão do maior com o menor. Em outras palavras, dificuldade em colocar na mesma equação quem criou o universo e quem seria supostamente o principal beneficiado dessa criação. A primeira incógnita refere-se certamente a Deus, palavra que reuniria o mais amplo dos conceitos, quem criou tudo, de onde tudo partiu, a origem das coisas. A segunda incógnita refere-se a mim e a você, não uma das criaturas criadas pelo Criador, mas “a” criatura, a primeira na linha de sucessão, a que viria antes de todas as outras (nossos pesquisadores desconhecem se existiria outra linha de sucessão, estabelecida por outros seres, tanto quanto nós criados pelo Criador, e beneficiados com o dom da vida que, a bem de sua própria espécie, poderiam protestar contra a ordem estabelecida pelo bípede metido a besta).

O fato objetivo, constataram eles, é que o homem se vê da forma descrita no parágrafo acima. Partindo dessa constatação, nossos pesquisadores procuraram apurar um fato intrigante: por que ele precisaria de nós para se conhecer? De acordo com certa linha de pensamento, a consciência do homem foi criada justamente para dar a consciência que faltava a quem a criou. Mas, por que quem sabe de tudo e de todas as coisas; por que a quem não escapa o pensamento pecaminoso de um santo, a bondade de um bandido, a falta de escrúpulo de um governante ladrão, a inércia dos bons, o dedo no gatilho na arma do soldado invasor, por que, mesmo sabendo de tudo isso e de todo o resto, ainda assim, Ele precisaria de nós para se conhecer? Sabendo de tudo isso, por que simplesmente não haveria como não saber, então, o que mais haveria para saber?

Segundo nossos pesquisadores, essa linha de raciocínio apresenta uma dificuldade suplementar: além de soar um tanto estranho dar a saber a quem sabe de tudo, o que a insuperavelmente limitada capacidade bípede seria capaz de dar a saber, senão mesquinharias, vilezas, torpezas, baixezas, traições, omissões, desvios, desmandos, absurdos, crimes, tragédias, assassinatos, corrupção, abandonos? O que tudo isso de tão baixo interessa a quem é tão alto? O que tudo isso de tão baixo faria conhecer-se melhor quem é tão alto?

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