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Quem não chora não mama
(ou porque o bom cabrito morre de inanição)

Quando o assunto é relacionamento em sociedade, entre os milhões de ditos que o homem desenvolveu para fazer frente a essa exigência, um dos mais desafiadores é: bom cabrito é o que não berra. Mas, desafiador por quê? Foi essa a pergunta que fizemos.

Certamente, não é o caso de chamar de chato o cabrito. Ele, como qualquer ser, humano ou não, de duas ou quatro patas, está lutando pela sua vida. Mas, por diversos motivos, que a exiguidade do espaço não permite desenvolver aqui, não é possível apontar os motivos que fizeram do cabrito o pobre coitado a pagar o pato (não o cabrito!) desta situação. Em outras palavras, o cabrito, que, como dissemos, só está lutando pelo que é seu, ao balir, ou melhor, berrar, acabou sendo visto como inconveniente, incômodo, impertinente, mal agradecido. Ficou visto como aquele que faz exigências desmedidas, ele, que, como qualquer um, só quer comer ou se ver livre de incômodos. Por isso, berra o pobre do cabrito.

A verdade do que estamos falamos ficou ainda mais patente nos tempos modernos, tempos em que todos se consideram no direito de ter uma voz, de poder falar, de poder reivindicar alguma coisa, qualquer coisa. Do ponto de vista do trabalho científico que desenvolvemos, nos vimos diante de uma equação com duas incógnitas: por um lado, todo mundo balindo ou berrando pelo que julga ser seu direito.

Do outro lado, a sociedade dizendo justamente o contrário, que se é bom, não berra o cabrito. Traduzindo: cabrito bom é cabrito mudo. É possível conciliar duas posições assim tão inconciliáveis? Por um lado, nunca se falou tanto como se fala agora, nunca se reivindicou tanto, nunca se protestou tanto, nunca se demandou tanto. Do outro-outro lado, nunca se advertiu tanto para que cale o cabrito.

Afinal, o que querem que façamos, quer dizer, o que querem que faça o cabrito? Na hora em que cala, dizem que ele, o cabrito, como qualquer bicho, independente do número de patas, tem direito a se manifestar. Na hora em que ele, animado por essa advertência caprinamente correta, berra, quer dizer, bale, dizem que por fazer isso ele (o cabrito) deixa de ser bom.

Afinal, o que querem que faça o cabrito: balir ou calar?

Ou a ideia é justamente essa: neurotizar o pobre do cabrito?

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