Tradicionalmente, dizia-se haver três assuntos sobre as quais não se deveria discutir: política, futebol e religião – para entender por que o sexo curiosamente não faz parte dessa trinca indiscutível, pedimos paciência ao leitor, porque já estamos providenciado um longo estudo sobre o tema. Acostumados à vida da pesquisa, nossos pesquisadores sempre estranharam existir algum tema que não pudesse ser assuntado, que não pudesse se expor ao sol abrasador, que se julgasse protegido da curiosidade natural de quem tem faro de perdigueiro para o conhecimento, tema que se sentisse assim tão elevado, tão puro, que não precisasse expor-se em praça pública, que não precisasse dizer a que veio, que, enfim, julgasse que sua nobre morada fosse tão somente os recônditos e rarefeitos neurônios de mentes por si próprias julgadas sábias por direito divino de sabedoria.
Para facilitar o entendimento do tema, nossos pesquisadores decidiram pesquisar aqui apenas um dos temas indiscutíveis, a religião. Eles estavam interessados em saber por que a religião seria uma questão que se assemelharia a questões como a existência ou não de gnomos; como acreditar-se que as saúvas fazem parte de uma grande conspiração interplanetária para destruir o planeta Terra; como acreditar que anões de jardim são espíritos involuídos e que, por isso, são anões e de jardim; como acreditar que se pisarmos primeiro com o pé esquerdo ao sair da cama, teremos um dia descanhotado – ou seja, questões afeitas ao que cada um pensa e sente.
Ora, que cada um fique com suas loucuras e que se dane o mundo!
Questões, portanto, de foro íntimo, das quais não daremos satisfação a ninguém, muito menos à inteligência e à coerência, e se quisermos acreditar que mexer a sopa quente com a colher da esquerda para direita (e não da direita para a esquerda) o eixo planetário irá se deslocar, problema nosso! Mas, pensaram nossos pesquisadores, por que a religião, que parece ocupar posição tão central na vida das pessoas, pertenceria a um terreno tão minúsculo, tão reservado, tão impenetrável como este, do foro íntimo, quase como se fosse alguma coisa que causasse embaraço, que provocasse vergonha? Ou que fosse como o segredo da bomba atômica? Mas, que segredo é esse que todos conhecem, de que todos partilham?
A pureza da religião não deveria ser assim feito fogo purificador, que consumisse tudo por dentro, fazendo com que do foro íntimo não restasse senão carvão, brasa adormecida quando muito?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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