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Se a criação fosse uma perfeição, os outros humanos
serviriam tão somente para a admiração (E não teria nada o que criar)

A criação é perfeita e ponto final? Em outras palavras, a beleza do céu, do sol, das plantas, das cachoeiras, do mar, das florestas, das flores e frutos estaria completa, se não existisse o olho humano para vê-la? E, vendo, o que estaria fazendo o olho humano, apreciando apenas? Nossos pesquisadores não endoidaram de vez, eles sabem que não dá para saber como se comportou a beleza da natureza antes do primeiro homem colocar os olhos sobre ela. Sabem também que para os fins de análise a que nos propomos, olhos de animais quadrúpedes são irrelevantes. Então, perguntaram-se eles: que papel desempenha o olho humano diante da beleza da natureza? Como a evolução não providencia nada que não sirva para alguma coisa, para que ela desenvolveria o olho humano? Olhos não faltavam, os animais estão no planeta muito antes de nós – não seriam eles suficientes? Mas, com o aparecimento do homem, a natureza se viu diante de olhos que não mais a olhavam candidamente, nem a olhavam com olhos de filho diante da mãe.

Diante desse quadro, nossos pesquisadores especularam que a natureza tenha sido talvez pela primeira vez submetida a um estresse até então desconhecido para ela: o que querem esses olhos? São olhos de deslumbramento, mas são também olhos de intimidação. A natureza – pensaram eles – teria se sentido como se sente uma mulher sob o olhar masculino? Olhar que admira um pouco e que deseja todo o resto?

O ineditismo dessa situação pode ter feito a natureza pensar: pela primeira vez não sou apenas o que era aos olhos dos animais, sou algo que nunca fui, sou algo mais por causa desses olhos que me veem como nunca me viram, como eu nunca me vi, sou mais bonita do que a beleza que me fez, nunca mais serei a mesma, a incomplentude que me fez acabou.

Por outro lado, a inexperiência da natureza pode ter feito com que ela ficasse durante muito tempo presa na teia de encantamento, que demorasse a entender o que os olhos humanos queriam dela, que demorasse a reagir quando o deslumbramento virou cobiça. Mas aí o olho gordo já tinha feito seu mal.

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