Os estudos dos nossos pesquisadores revelaram existir uma parcela importante, significativa e numerosa de pessoas que se sentem desconfortáveis com o pai que tem, pai de carne, osso, neuras e dívidas. Neste caso, aliás, existe a possibilidade de o sujeito declarar-se órfão de pai. Em outras palavras: insatisfeito com o pai que tem, a começar do fato de ter não ter tido a possibilidade de opinar se gostaria de ter sido gerado por este pai específico, a pessoa, mesmo com o pai vivo, não irá mais reconhecê-lo como pai, declarando-se portanto órfão de pai. Para isso, entra na Justiça com um processo des-filiação, fazendo com que conste no Registro Geral ser filho de um pai por ele renegado. Nossos pesquisadores apuraram que, não raro, a figura de pai que está sendo renegada oscila entre a de um pai padrasto e um pai patrão, ou seja, mandão em qualquer um dos casos. Nada de pai amoroso e acolhedor. Nada de diálogo, nada de conversa, nada de trocar confidências sobre amores e mulheres. Nada de bater uma bolinha no sábado. Nada de tomar uma cervejinha no domingo. Nenhuma palava amiga. Pai nada inspirador, tudo menos um modelo a ser copiado. A vida com um pai assim não é bolinho. Mas há pais assim – o que fazer?
Nossos pesquisadores apuraram que além da existência física desse tipo de pai infernizar a vida dos pobres rebentos, o dano psicológico é ainda pior, e muito mais duradouro, não raro para toda a vida. Imagine você, leitor, o que seja ir para o bosque, e lá está ele; ir para a praia, e lá está ele; ir para a serra, e lá está ele; ir para a montanha, e lá está ele; ir para uma ilha deserta, e lá está ele; ir para o motel, e lá está ele; ir para o boteco da esquina, e lá está ele; ir para debaixo de uma árvore, e lá está ele; ir andar de skate, e lá está ele; ir bater figurinha na escola, e lá está ele; ir jogar bocha, e lá está ele; ir à reunião de condomínio, e lá está ele; ir à feira, e lá está ele; ir olhar pela fechadura as meninas tomarem banho, e lá está ele; tirar meleca do nariz, e lá está ele; cutucar o ouvido com tampa de caneta esferográfica azul, e lá está ele; colar na prova de matemática, e lá está ele; desembaraçar-se de um incômodo flato intestinal, e lá está ele; xingar a mãe do juiz, e lá está ele; ficar com várias namoradas e/ou namorados ao mesmo tempo, e lá está ele!
Mas, se um pai está em todo lugar em que está o filho não é por que o filho e o pai são um? Se um pai assim está em todo lugar seria não uma questão de lugar, mas se o pai estará onde estiver o filho não é por que estamos falando de um único e mesmo ser?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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