Para elucidar esse aforismo, nossos pesquisadores partiram daquela prédica que reza que Deus, além de ser onisciente e onipotente, é onipresente. Das duas primeiras condições, eles não se ocuparam aqui, é a terceira que interessava. Nossos pesquisadores esclarecem que não iriam trabalhar tentando descobrir se essas qualidade seriam verdadeiras, quer dizer, se existiriam de fato – antes, partiriam da constatação de que, presentes na cultura humana há milênios, ela já teria impregnado o inconsciente coletivo. Em outras palavras, acreditando-se ou não, Deus estaria em todo lugar.
Nossos pesquisadores partiram do pressuposto de que a Terra é a casa do homem – para facilitar a pesquisa, desprezaram aqueles que se identificavam como genericamente universais ou como universais extraterráqueos específicos, como marcianos, netunianos, plutonianos, saturnianos e demais lunáticos. Consideraram também que todos querem se sentir bem em sua própria casa e ninguém pode se sentir bem se em sua casa habita um ser estranho, ou pior, que mesmo sendo o proprietário da casa, esta não lhe pertenceria, como se, mesmo com escritura em seu nome, grilada ou não, fosse na verdade inquilino da casa de outrem (pra não dizer da casa da mãe Joana).
Nossos pesquisadores perceberam uma situação ainda mais constrangedora. Imagine alguém feliz por poder morar em uma casa, a sua casa. Talvez não a casa que julgasse ideal, espaçosa o suficiente, limpa o suficiente, com o saneamento suficiente, com a acomodação suficiente, com problemas de super aquecimento, de falta d’água, de esgoto, de goteira, mas, ainda assim, a casa que ele tem para morar. E que ele fosse percebendo aos poucos que essa casa fosse como que assombrada, como se nela ele percebesse a existência de alguma forma de vida ainda não identificada, uma espécie de espectro presente em todo espaço da casa onde ele fosse. Se deixasse a sala em direção aos quartos, lá estava ela; se saísse do banheiro e fosse à cozinha, ela também estava lá; não adiantava tentar se abrigar nos quartos, ou na área de serviço, ou na garagem, ou no andar térreo, ou no andar de cima, ou na lavanderia, ou na varanda, ou no jardim de inverno, ou no terraço, ou no sotão. Uma presença de alguma forma perceptível, mas inidentificável. Onde ele estivesse, lá ela estaria. Para onde ele fosse, ela também lá estaria.
Fala a verdade, não lembra aquela do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come?!”
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
Canis Circensis – Copyright 2024 – Políticas de Privacidade