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Se for esperto, o bobo sai ileso da corte

Ao dar início à elucidação deste aforismo, nossos pesquisadores começaram a consultar documentos históricos para entender, afinal, qual papel o bobo desempenhava na corte. Viram que não faltavam referência, afinal, não faltavam bobos. Inicialmente, pensaram: o bobo deve fazer rir reis, rainhas e nobres, principalmente os primeiros, de cujo bom humor dependia ele bobo para continuar vivendo. Uma piada mal contada, um gracejo infeliz e pronto: lá vai embora a vida do bobo. Mesmo seu melhor esforço em ser bobo estaria condenado ao fracasso se o rei estivesse naquele dia com o fígado prejudicado pela bebedeira ou de cabeça quente com as articulações palacianas, ou se se comportasse simplesmente como um rei: aleatório, arbitrário e mandão, acreditando piamente que dentro da própria barriga havia um rei.

Triste vida a de um bobo, pensaram os pesquisadores: para continuar a viver dependia de ser capaz de alegrar a vida de quem não pode ser contrariado por nada. Assim, para continuar vivo o bobo tinha quer ser é muito do esperto. Se conseguisse escapar da arbitrariedade real, o bobo poderia ter uma longa vida pela frente. Então, ele não seria assim tão bobo, por conseguir continuar vivo às custas de ter de divertir um ser mimado com uma coroa sobre a cabeça (achando que isso fazia dele rei). Os papéis se inverteram: enganado pelo bobo, o rei seria sim ele o bobo, que passaria a ser ele bobo o esperto. (Imaginamos quantas risadas o bobo não dava neste tipo de situação, risada sem abrir a boca, claro. De quebra, ainda ficava sabendo segredos que o rei, ou bêbado ou soberbo, acabava por lhe segredar.)

Nossos pesquisadores então se perguntaram: acabadas as monarquias (quase todas), teriam acabado os bobos? Só nas cortes antigas existiam bobos, estando eles dentro dos palácios ou fora deles, não importa, sendo todos súditos bobos do rei? E nas novas cortes, não haveria bobos? Bobo só existe na monarquia, ou em democracia bobo é o que não falta? Se existe bobo na democracia, esses, à semelhança dos bobos palacianos, teriam que fazer o quê para sobreviver, fazer rir reis de plantão, reis sem coroa, pompa e circunstância?

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