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Se o homem ainda precisa se tornar aquilo que é,
é porque ainda não é o que precisa se tornar

Para averiguar a profundidade desse aforismo, nossos pesquisadores partiram de uma constação clara – e cara – a todos: o homem tem – ou teria – um núcleo “dentro” da sua personalidade, que ficaria protegido, abrigado contra as chuvas e tempestades que atingissem seu psiquismo. Esse núcleo duro seria como a fundação do ser; seria como se fosse a pedra fundadora; seria o que haveria de mais básico, de mais puro, de mais intocado no psiquismo do homem. Todo o resto da personalidade humana seriam variações as mais diversas, todas elas absolutamente circunstanciais, estranhas mesmo a esse núcleo puro. Para piorar, esse resto entraria no psiquismo humano como penetra em festa. Esse núcleo original não poderia ser modificado de maneira alguma; não poderia ser atingido; não poderia ter sua verdade contestada. Dessa forma, pode-se dizer que esse núcleo não seria apenas o que haveria de mais genuíno em nós, mas esse núcleo seríamos nós! O resto, nada mais que modismos passageiros, contra os quais o núcleo duro deveria se portar como um cruzado diante de um infiel.

Nossos pesquisadores apuraram, contudo, que as coisas são assim, mas não bem assim. Assim: se o núcleo duro é o mais genuíno “eu”, ele não é um produto de prateleira a ser comprado na loja da esquina, e também seria tal qual é hoje, amanhã e depois, em uma palavra, ele, pura e simplesmente, não poderia evoluir porque não teria porque evoluir. Como melhorar a perfeição? Na vida, tudo muda, tudo evolui, menos “ele”, o intocável. Então, seríamos todos, cada um dentro do seu ser, o que há de melhor, o que pode haver de melhor. Nunca seremos mais do que somos, se já somos tudo que jamais seremos.

Chamou a atenção de nossos pesquisadores um fato peculiar. Aqueles dentre os entrevistados que se mostraram interessados no tema apresentavam um comportamento um tanto estranho: uns pareciam que não percebiam que estavam parafusando um parafuso há horas – espanaram? Outros andavam em círculo tendo um pau apoiado no centro – não saiam do lugar? Outros estavam há horas e horas subindo uma escada rolante que rolava para baixo – não percebiam? Mas, a maioria lia livros que não percebia estarem sendo avidamente comidos por traças insaciáveis.

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