Nossos pesquisadores estavam interessados em entender uma teoria, ou uma ideia, segundo a qual o mundo seria um só. Sendo um mundo só, haveria uma só lei a governá-lo. A única variação que existiria correria por conta do nível de mundo/ realidade: se mais ou menos denso, não importa: a lei seria aquela, única, adaptada a esse nível de realidade. Estaríamos, então, diante de uma única e mesma essência e a variação, que seria literalmente infinita, respeitaria, de acordo com suas características, essa essência – uma espécie de samba de uma nota só da evolução.
As decorrências lógicas dessa ideia são inúmeras. Uma delas: não importa o quadrante de universo que se tenha em mente, lá seria como aqui – e, claro, aqui como lá. Olhos atentos não se deixariam levar pela fantasmagoria da aparência, pela sedução da imagem, pelo meramente visual – isso tudo não passa de um passo de uma dança: quando você tenta capturar o passo, este já é outro. Deixar-se levar pela aparência do que aparentemente aparece é coisa de gente desavisada, ignorante, que não sabe que o que está à frente tem sempre o que está por trás.
Outra decorrência mereceu particular atenção de nossos pesquisadores. Se, não importa onde se esteja tudo é uma única e a mesma coisa, de que adianta sair do lugar? Se lá é como aqui, ao menos, ficando aqui, poupa-se o dinheiro da viagem, além de se deixar de lado a ilusão de que lá, sendo diferente daqui, será necessariamente melhor do que aqui. E, pensaram nossos pesquisadores, como fica a esperança de que lá seja melhor do que aqui? De que lá o mundo seria de fato o mundo verdadeiro, e não esse mundinho de ilusão onde achamos que vivemos? O alto sempre foi a esperança de quem está embaixo e agora me vem essa gente com essa ideia de que não adianta pensar que deixando aqui o mundo baixo chegaríamos ao mundo alto! Então, de que adiantaria chamar de inferno apenas o mundo em que vivemos, se, à nossa espera, o mundo que nos espera seria tão quente e abafado quanto este em que já vivemos?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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