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Se vivessem, também os anjos envelheceriam

Nossos pesquisadores estavam interessados em eviscerar um tema específico: viver mata? Mais exatamente: haveria um preço a pagar por viver? Se sim, qual preço? Fomos a campo, como fazemos sempre, para verificar se nossas especulações fazem algum significado para o povão, verificar se eles estão de acordo ou se especulações de escritórios não passam disso mesmo, especulações teóricas desconectadas da vida real.

A primeira coisa que eles constataram foi quase uma unanimidade na resposta dos entrevistados: viver mata. De um jeito ou de outro: vivendo-se bem (os endinheirados rentistas às custas do trabalho dos trabalhadores), ou vivendo-se no limite, de tal forma que chamar de vida tanta dificuldade só mesmo com uma definição muito particular de vida.

Nossos pesquisadores inverteram a questão, perguntando ao povão se, se vai morrer do mesmo jeito, haveria então uma maneira, independente do resultado final, igual para todos, assaltantes e assaltados, para que ao menos a vida fosse mais digna para todos, ou que fosse possível viver mais, por mais tempo? Não, foi a resposta, e acompanhada de uma reflexão: viver não deveria matar, mas, já que mata, quanto melhor vivessem, mais viveriam independente do número de anos – e, depois são nossos pesquisadores é que são especuladores!

Agradavelmente surpresos com a especulação do povão, nossos pesquisadores perguntaram de pronto: já que viver costuma, antes de matar, conduzir ao envelhecimento (se a vida não é abreviada por vontade própria ou por outra circunstância qualquer), não haveria um jeito de não envelhecer – aí, não se morreria!

Perguntamos para a turma do sambão, e eles responderam: “Mas como não envelhecer tomando cerveja, sambando a noite toda, namorando?!”

Perguntamos em seguida para a turma da feijoada, e eles responderam: “Mas como não envelhecer comendo feijoada gorda e completa, com paio, pé e língua, bebericando cachaça?!”

Um de nossos pesquisadores, bem intencionado até, sugeriu que todos eles se lembrassem das rechonchudas bochechas dos anjos e sua cara eternamente angelical.
Resposta do primeiro grupo: “Mas sem cerveja, samba e beijos?!”
Resposta do segundo grupo: “Mas sem torresmo e cachaça?!”
Resposta dos dois grupos: “Melhor envelhecer se divertindo e, depois, morrer em paz!”

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